Eu não arrumo minha cama todos os dias. Tipo copo meio cheio ou meio vazio, eu arrumo meio cheio. Assim considero. As vezes largo mão e passo dias só dando uma ajeitadinha antes de usar novamente. Outras, arrumo direitinho por dias a fio. Ora desisto por questionar o sistema, os motivos, se é o que eu quero mesmo ou o que esperam de mim. Ora me dedico por ser uma coisa que sou responsável, por mim e para mim, apenas.
Hoje a tarde minha mãe estava ao telefone com minha tia e ouvi mais uma vez me criticando pois nunca arrumo minha cama.
Agora a noite, meu caçula veio ficar comigo no quarto, deitou na minha cama, se acomodou bem e falou que adora minha cama pois está sempre arrumadinha.
Larguei o livro que estava lendo. Parei por uns longos instantes sem palavras e refletindo… Sempre haverão muitos pontos de vista sobre a mesma história. Como bem disse a psicóloga pra minha menina essa semana: precisamos usar filtros. Filtros!
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Pimenta
Eu sentei para almoçar. Quando preparei a primeira colherada, senti um cheiro muito forte de pimenta. Veio ardendo nas narinas e esquentou todo o rosto. Respirei fundo novamente e o gosto se alojou na minha garganta. Senti até adormecer a boca. Fechei os olhos e vi claramente o vidrinho de pimenta na mesa. Aquele que meu pai preparava com todo gosto, toda vontade e satisfação do mundo. Era uma coisa que ele amava e cultivava ferrenhamente. Vi ele preparando seu pratinho simples e robusto, sentando a mesa conosco e deleitando seu banquete singelo.
Eu não gosto de pimenta. Eu não odeio pimenta. Eu fiquei feliz com as sensações que me corpo vivenciou sozinho, sem pimenta na mesa realmente. Sem meu pai ali. Sem meus filhos e minha mãe sentindo aquilo comigo. Aqueles que amamos nunca morrem!
Lembrei desse poema e quero compartilhar:
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
José Luís Peixoto Em A Criança em Ruínas
pandemia 2020
Há uns 15 dias eu estava muito preocupada com o #covid19 a ponto de ter pelo menos 30 crises de ansiedade por dia. Medo do incerto. Medo pois as pessoas não estavam levando a sério mesmo tendo dados e fatos reais pelo mundo. Medo pois sou responsável por mais 4 vidas e sou só.
Eu nem me preocupo muito em ficar. Seria o melhor cenário aliás. Meu desespero é o que fazer se um de casa ficar. Acompanhar um e deixa os outros à mingua!? Crise de ansiedade não mata! Só sequela. Consciência de classe é oposto a tranquilidade e positividade! Tipo o Titanic que não tinha bote para todo mundo… A gente bem sabe para que lado a corda arrebenda primeiro.
Sentir na pele gente de casa zombando da sua preocupação com o grupo de risco, saindo de casa e sequer lavando as mãos quando chega. Detalhe que não sai para nada do cotidiano, dos cuidados coletivos, como mercado, padaria, banco. Sempre desculpa de dor, de idade, de pouca mobilidade. Levar um lixo na rua não pode. Para festas e eventos não tem dor. Quando se deve ficar em casa, inventa mil e uma atividades indispensáveis para o bem do seu próprio umbigo. Na internet compartilhando “vamos ficar em casa”, “heróis” com a galera da saúde e orações o tempo todo! Me enlouquece!
Esses últimos dias eu estive mais calma. Passei uns 3 dias sem crise. Ontem recai. Hoje bem até o momento. São altos e baixos. Como sempre, me coloco lá no escanteio, sou suporte para todos. Me dedico para deixar as crianças bem e menos possível ociosos. Relevo boa parte das injurias da adolescente e entoo mantras para aguentar a mãe teimosa.
Duas crianças, uma adolescente e uma idosa. As vezes tudo o que eu preciso é de uma conversa com gente. Sinto que estou definhando intelectualmente e quando encontro alguém, descambo e volto para o meu limbo habitual.
A quarentena, ou melhor, o distanciamento social que o momento pede, é a parte mais fácil para mim, já que adoro ficar enclausurada. O problema é a tensão. Ter que lidar de muito perto com pessoas que odeiam não socializar.
Dias atrás passei na casa da vó só para ver ela mais uma vez antes do caos total fazer as escolhas de quem levar. Eu do portão, ela da janela. Bença vó. Deus abençoe. Se cuida. Se cuida também. Te amo. Te amo. Tchau.
Achei o máximo a escola dos meninos, que é pública, mandar online, lição pra fazer em casa a semana toda. Nem 2 horas ainda fazendo juntos lições distintas para o 1º e para o 4º ano, já começo repensar a vida. Eu não me formei em pedagogia!
Minhas coisas ficam sem fazer. Não consigo trabalhar por não deixarem me concentrar em nada sem requisitarem atenção a cada minuto. E quando tento fazer algo que gosto não consigo me concentrar pq a cabeça não relaxa. Não leio um livro, não assisto um filme. Improdutiva real!
Eu comi tudinho as unhas nos picos de ansiedade. Não comia há uns 30 anos. Depois ficam horríveis! Tudo despelando, desfarelando, descamando, arranhando. Credo! Depois de uma semana que começa dar pra ajeitar. Quando a gente faz e com uma semana já estão feias, uma semana é rapidinho. Quando quer que ajeite, uma semana é uma eternidade.
O piercing do nariz que tirei, tenho desde os 16. Mais da metade da minha vida. É tão estranho ficar sem. Mexo como se estivesse lá. Acho que não acostumo sem. Surtar sem demonstrar. Respirar numa crise, fingindo que não está sem ar. Chorar escondida e responder que o vermelho dos olhos é alguma alergia. Aguentar o sono do dia pós noite inteira de insônia. Não deixar os outros preocupados. Essa é a meta!
Não tenho cabeça pra nada. Já mandei mensagem para as pessoas que mais amo. Não lido bem com remorso. Precisamos fazer as coisas enquanto ha tempo. Não só nesse contexto mas em toda a vida.
E nessa mesma linha, nesses momentos de incertezas, vemos quem realmente está conosco. Quem se preocupa. Quem se faz presente mesmo distante. E quem mesmo próximo, sempre esta longe…
A neurose de quem é cuidador é tão grande que já fui meio que deixando as coisas encaminhadas para as pessoas caso eu falte. Anotei logins e senhas. Tirei brincos e piercings. Enumerei orientações para os próximos meses.
Dos privilégios que eu queria ter, o único relevante seria o direito a desabar.
As vezes eu só queria um colo. Nem seria para desabafar. Só pra descansar! Não queria alguém para carregar o meu fardo. Só alguém que não me fizesse carregar o dele. E que pudéssemos descansar juntos. Com leveza. E afeto.
Quando tudo isso passar, todos estiverem seguros e bem, preciso muito de uns dias reclusa. Em outro lugar. Sem telefone, sem internet. Sem ter que fazer comida, cuidar da casa. Sem responsabilidades.
04/12/19
Estava sozinha no transporte público quando divaguei em uma outra realidade onde me vi sentada em uma joalheria ao lado do meu amor escolhendo nossas alianças de casamento. Era notável o sentimento terno que nos envolvia. Quando a bandeja se aproximou, logo imaginei que ele se encantaria por aquela mais grossa, vistosa, reluzente. E de fato ele a pegou entusiasmado. Observei com alegria. Peguei a mais fininha de todas e ele se espantou.Acabo cedendo primeiro deixando a escolha com ele.Ele cede também para me agradar.Concordamos que o sentimento é maciço, enraizado, puro e não precisando de extravagâncias externas para celebrar nossa união. Seguramos as mãos e nos olhamos apaixonados por longos instantes.Volto para a vida real com coração aquecido e um sorriso doce e ingênuo que me acompanhou o restante do dia e não foi compreendido por ninguém nem mesmo por meu amor platônico que nem lembra da minha existência…
19/11/19
Eu acordei pensando muito em uma amiga querida, de longa data, que não encontro com frequência mas que gosto de uma maneira muito especial. Pensei em mandar mensagem logo cedo mas deixei pra depois. Depois ia mandar e estava muito ocupada. Depois decidi parar de enrolar e mandar mensagem logo, assim que terminasse de arrumar o pequeno para escola. Quando peguei o celular, sim, tinha uma mensagem dela. Que sintonia gostosa! A demora da minha parte foi por causa dos meus pequenos conflitos cotidianos, corriqueiros, paralisantes. Eu tenho ciência que preciso ignorar-los e aniquilar-los porém nem sempre venço. Pipoca na mente o “e se”. E se eu estiver incomodando? E se ela tiver coisas mais importantes? E se eu for um estorvo? E se? E se? E se? Engoli todos os meus “e ses” e assim nasceu, cresceu e morreu uma neura.
26/10/19
Eu sonhei que estava em uma piscina enorme a beira mar com minha filha, ainda pequena, o pai dela por perto, já estávamos separados mas éramos amigos. Vinham ondas gigantes do mar, um tsunami. Nos justávamos segurando as mãos. Ela no meio. Eu dizia que não sabia nadar. Ele dizia que enfrentaríamos juntos. As ondas vinham uma a uma, cada uma maior que a outra. Permanecíamos juntos. Sentia aquela sensação de afogamento por vários instantes. Ainda assim sem me desesperar. Depois de muitas ondas, elas diminuíram até cessar. Saíamos inteiros e unidos. Depois do susto, serenos e fortalecidos. Foi um sonho tão poético! Coisa mais linda do mundo! Acordei e fiquei em transe por um bom tempo olhando para o teto vislumbrando uma vida leve que nunca tive.
21/10/19
Alinneverso
Eu me apego nas artes pela beleza de suas cores. A vida real da um ar daltônico que só permite enxergar o arco iris em sete tons de nublado…
02/09/19
Eu não entendia esse lance de fã/ ídolo. Achava legal gostar, admirar, se identificar mas só até a página 2. Cantor, ator, jogador de futebol. Por que idolatrar alguém que nem sabe que você existe?
De repente, comecei aparecer meio sem querer ali naquele mundo fantasioso chamado internet. Não bem eu. Minha arte, meus artesanatos, que são uma porcentagem tão minúscula do que eu sou. Mesmo porque o que sou, não sou. Eu mudo. Me transformo a cada segundo. Surgiram umas pessoas se dizendo minhas fãs. É um pouco estranho. Sei que é muito pequeno. E efêmero. Meus pés estão muito fixos no chão, diga-se de passagem.
Já gostei e gosto de muitos famosos mas nem sei se consigo dizer que sou fã. Não acredito que tenha algum ídolo.
Conheci um poeta. Moderno. Com sucesso na internet. E mais seus amigos. Eles tem um coletivo de artistas. De deleitosos textos. Escrita doce, realista, esperançosa, profunda, melancólica, dramática… Tudo o que me toca na alma. São meio que super bonder de caquinhos de coisas do lado de dentro. E percebi que transpassei aquela tênue linha e virei fã. Por causa do diferencial. Eles são gente comum, gente como a gente. Me vejo muito em cada um deles. Os encontrei pessoalmente algumas vezes. Sempre muito receptivos, solícitos, acessíveis. Fui em um bate papo na primeira vez, teve autógrafos em seus livros, abraços calorosos, toque, presença de corpo e alma. E que almas lindas! Já somo meia dúzia de encontros. De sair com o coração aquecido. Não há nada mais gratificante para um leitor apaixonado do que ter seu exemplar autografado e com dedicatória. Viver no mesmo tempo presente que seu ídolo, ter o mínimo de contato e uma ~mesmo que ilusória~ amizade. É encantador! Reconheço que não consigo o tempo todo ser ajustada e separar o talento que amo neles com o resto do todo que cada um é. Nutro um amor platônico por um deles. Não mereço tal reverberação.
Quando criança, fui em um ou dois shows. Só consigo recordar da sensação ruim de estar em um aglomerado de gente. Muita gente, muito empurra empurra. Abafado, apertado, agonizante. Adolescente fui em mais alguns, pequenos, cristãos, sem grandes lembranças. Casada tive vontade de ir em dois, de artistas famosos, internacionais. Não consegui por diversos motivos. Em um deles, marido foi sem mim, o que rendeu uma boa crise.
Vida passa, muita coisa muda, muita aflora. Introspecção reina. A parte cinéfila toma protagonismo. Ir ao cinema sozinha, melhor passatempo! Eu ia dizer que frequentar lugares cheios me apavora. Sim e não. Cinema está ai para equalizar. Acho que gosto pois estou na multidão, mas permaneço sozinha. Não precisa de interatividade. Tenho pavor de socializar! Não faço novas amizades. Não gosto muito de conversas sem intimidade, papo furado, superficialidades. Tudo me incomoda, as amarras sociais, os trejeitos, os cuidados com as aparências que queremos passar, as podas e os excessos. Grandes encenações. Acho lindo o que somos sozinhos, entre quatro paredes, no travesseiro. Isso que me importa.
Eu tenho uma prima/ amiga/ irmã que é muito parecida comigo. As nossas desculpas são similares, as nossas dores, nossas angústias e nossas fobias. É ótimo marcar as coisas com ela e saber que cancelaremos naturalmente. Compreendemos e validamos os motivos com empatia. Certa vez em uma conversa falamos que só iriamos em um show se fosse nostálgico como um retorno de Sandy e Junior. Alguns meses depois veio o anúncio da turnê. Não acreditamos. Um único que faria a gente se jogar. A loucura dela com a minha se completaram. Foi insano o valor, foi insano conseguir comprar, foi insana a ideia de ir. Sabíamos que seria uma experiência única. Não se repetiria. E nos arrependeríamos caso perdêssemos. O tempo todo uma surtando, apoiando a outra, acalmando, surtando junto, entendendo a crise da outra. Ter quem sente exatamente igual faz toda a diferença.
Chegou o tão aguardado dia. Eu planejei desistir muitas vezes. Minha amada foi minha força! A contagem regressiva dos dias foi tensa. As horas anteriores ao dia foram sofridas. A noite foi em claro. Assisti um filme de terror para entreter aquelas horas. Gostava muito antigamente, agora tenho muito medo. Nem esse muito medo me fazia mudar o pensamento, mudar o foco. A palavra ansiedade é pequena para descrever. Os sintomas da crise são físicos. Dado momento tive uma queda de pressão na fila. Eu sou aquela pessoa que chega nos lugares já observando a saída. Tenho necessidade de planejar uma rota de fuga. Aglomerados me causam náuseas. Na entrada precisei jogar um livro no lixo. Sou muito apegada em livros, foi realmente doloroso não passar com ele na revista.
Foi a primeira vez que entrei em um estádio. Imenso! O palco montado, lindo! O sentimento inexplicável era compartilhado com todos ali. Todos vulneráveis. Na mesma sintonia. Ver lotando, todos os espacinhos sendo preenchidos. Então alguém começa cantar, e todos ao redor continuam, cinco, dez mil pessoas cantando junto. A ola começando aqui e percorrendo todo o estádio. Trinta, quarenta mil pessoas repetindo os gestos e as músicas. O fim daquela tarde de inverno é aquecida por corações pulsando na mesma batida.
O espetáculo inicia. A multidão delira. Quase cinquenta mil fanáticos vão a delírio. Nesse momento já não cabe ali metades. Todos inteiramente entregues. Outrora indaguei que não merecia estar ali. Gostava mas não era enlouquecida por eles. Não sabia todas as letras, não colecionei pastas de arquivos da mídia. Fez parte da minha vida mas não idolatrava. Nessa hora percebi que fã não se mede com a mesma régua. Nem precisa. Nem faz sentido. Me entreguei ao momento. Fui tudo que não sou normalmente. Intensa. Expansiva. Cantei do começo ao fim. Chorei do começo ao fim. Dancei do começo ao fim. Tirei muitas fotos ~que ficaram ruins~ e fiz vários vídeos. Eu tinha dito anteriormente que odiava quem faz isso e não curte o momento. Sim, curti muito o momento e sim, queria registrar para a posteridade. Abria a câmera e curtia sem lembrar dela, tanto que não houve foco nem enquadro, tao pouco arrependimento por isso. Eu que nem de contato físico e nem de desconhecidos sou chegada, estava lá cantando e chorando copiosamente, abraçada com pessoas que tinha acabado de conhecer. Pessoas com a mesma emoção que eu estava sentindo, com a mesma nostalgia, com a mesma euforia. Se eu me contasse depois, eu não me acreditaria. Ainda bem que eu estava lá para me provar! Foram horas inacreditáveis e inesquecíveis. Os artistas que sempre gostei, se tornaram ainda mais maravilhosos. O carisma, a simpatia e o talento são multiplicados infinitamente pessoalmente. A voz da Sandy é uma coisa surreal. O Junior se tornou um astro impecável. E a emoção deles era nítida. Estavam imersos naquela atmosfera fantástica junto conosco. Uma super produção com efeitos, luzes, fogos, bolas e balões. A energia contagiante. Coisa de outro planeta.
Saímos extasiadas. A parceria foi fundamental em todo o processo. Serei eternamente grata! Ter com quem dividir a adrenalina foi essencial. Passamos as horas seguintes em transe. Os dias. Aquele som tocando repetidamente no ouvido. O tom, a pausa, a voz embargada. Tudo milimetricamente gravado na memória. A galera querendo repetir. Eu não. Ainda não superei. Ainda estou digerindo, deleitando. A alma demorou bastante para voltar e sincronizar com o corpo. A emoção foi demais para mim. Não sei se aguento novamente. Minha cota já bateu. Espero que todos possam vivenciar isso com seus ídolos ao menos uma vez na vida. É frenético, intenso e transformador.
A gente é fã de graça! Sem interesse, sem precisar de algo em troca. A gente admira e os quer bem. A gente é grata pela existência dos nossos ídolos. Agora eu entendo e vou muito além da página 2. Tinha simpatia. Agora empatia. Que bom termos exemplos, termos admiração e termos reconhecimento. Para ver a alma transbordar, cada segundo de ansiedade vale a pena. Eu te dou meu coração, você me dá o seu talento. Obrigada universo por tanta troca! A arte salva o mundo!
Entrego, confio, aceito, agradeço!
Espiritualidade é um assunto complexo. Hoje eu não sei definir minha religião. Quando criança ia em igreja católica, fui batizada bebê e fiz catequese pré adolescente por obrigação. Ia na missa esporadicamente porque sim, não por vontade. Quando jovem me encontrei evangélica. Frequentava com gosto. Me fazia muito bem! Intimamente ainda sigo os preceitos de outrora porém como não sou ativa naquelas rotinas, prefiro não dizer que sou. Me defino como cristã. Apenas. Tenho um conceito sobre Deus e sou super aberta para amplitude das definições de cada um em relação a isso. Se você diz que é um criador eu concordo. Se diz que não existe, concordo. Se diz que é uma energia, concordo. Te incentivo a criar uma relação efetiva com “ele”. Da forma que te fizer bem, está valendo!
Tem uma coisa que sempre acontece comigo, que não sei explicar, não sei definir. Sei que sinto, respeito, obedeço! Não sei quando começou, desde sempre. E sempre!
Em momentos aleatórios. Pode ser no supermercado, no almoço, no cinema, em uma roda de conversa… Vem uma pessoa na minha mente. Como um estalar de dedos. Antes eu tentava ignorar. Em vão. Fica voltando, voltando. Enquanto eu não paro, não me desligo da realidade, isso fica insistindo. Já me acostumei, então no primeiro momento já faço minha pausa. Quando dá para ir em um cantinho, eu vou. Quando não, coloco meu corpinho no modo automático, e saio um minutinho dali. Mentalizo a pessoa, busco me conectar, mesmo não sabendo qual sua necessidade principal naquele instante, com todas as minhas forças busco ajuda, peço clareza em seu olhar, serenidade em seu coração e forças em seus músculos para seguir em frente, enfrentando qualquer obstáculo. Volto, agradeço. Procuro não questionar, senão eu piro. Sigo minha vida.
Há quase dois anos, meu avô ficou doente. Os primos se comunicavam através de um grupo de mensagens. Quando ele deu uma piorada, fizemos um acordo, de orar juntos por ele, diariamente, cada um de sua casa, mas no mesmo horário. Até coloquei o alarme do celular para me lembrar. E assim fazia. Uns meses depois ele melhorou, o grupo de oração parou. Eu costumo colocar vários alarmes no celular. Para acordar, uns minutos antes de dar hora do filho sair da escola, hora de arrumar o outro filho para a escola, remédios, consultas. Certa época, eram férias escolares. Fomos viajar e desliguei todos os alarmes. Tenho certeza que desliguei porque foi um momento importante de descanso para minha saúde mental! Uns dias depois, tocou o alarme “hora de orar pelo vô”. Achei estranho. Não tinha programado. Ninguém tinha encostado no meu celular para eu por a culpa. Não questionei. Me recolhi e fiz a minha oração. No dia seguinte pela manhã veio a noticia do falecimento.
Semana passada eu tive insônia um dia. Quando eu estava quase pegando no sono, veio na cabeça uma amiga. Amiga de longa data mas que faz tempo que não vejo. Peguei o celular para mandar uma mensagem, abri na conversa, notei que era muito tarde e desisti de enviar. Guardei o celular. Fiz minha oração por ela. Assim que terminei o celular tocou. Duas da manhã. Era meu irmão para falar que a irmã da Priscila se foi.
Eu nunca conversei com a vizinha da frente. Mora ha alguns anos ali. Sei quem é. Só. Há mais ou menos um mês, todos os dias, a Cris vem na minha mente. Há umas semanas perguntei para minha mãe se sabia algo dela. Nada. Há uns dias acordei as 5h e ouvi sua voz. Eu não conheço sua voz. Todos esses momentos orei por ela. Agora soube que ela se separou do marido e se mudou. Queria que ela soubesse que estive junto, em pensamento nesses dias difíceis.
Muitas vezes quando tenho esses insights, não acontece nada. Penso que é só uma proteção extra. Você que está lendo agora, possivelmente já estive contigo em algum momento. Eu não quero explicações. Eu aprendi a seguir meu coração. Já me questionei que poderia fazer algo pra mudar alguma situação. O efeito borboleta certamente viria. Eu não tenho poder de mudar nada. O que me é acessível fazer, faço. Se é para o bem, se não faz mau para ninguém, siga sua intuição você também!
Retorno
Primeiramente gostaria de me desculpar pela ausência nesse cantinho que eu tanto amo. Eu fiz algumas poucas postagens apenas de textos, pelo celular, que as ações são limitadas, tenho comentários atrasados para responder e não inclui as artes que andei fazendo. Tenho atualizado bem o instagram. O que aconteceu foi que meu computador pifou no fim do ano passado, não compensava arrumar por causa do custo/ beneficio. Precisei terminar umas parcelas para só agora conseguir comprar um computador novo. Não que tive dinheiro agora, apenas pude começar novas parcelas, que me acompanharão por meses e meses hehe Faz parte! Junto vieram crises internas, bloqueio criativo, nada de novo, sempre os mesmos dilemas… Ai tem a adaptação ao computador novo, programa novo, aprendi tudo na raça, quebrei muito a cabeça, meio ano sem computador, que é uma ferramenta importante nessa `profissão´, e férias escolares dos filhos. Enfim, quero agradecer quem continua me acompanhando e apoiando. Vocês são incríveis comigo! Obrigada!!! E quem está chegando agora, bem vindo!!! Vamos compartilhar conhecimentos e idéias!!! Inspirem-se!!!
Com amor, Alinne
28/07/19
É fim de mês. Sempre fica mais complicado. A conta bancária vazia. Ainda faltam cinco dias para a fatura do cartão de crédito fechar. Só resta uma única notinha de vinte reais.
20/04/19
O dia foi ontem, dezenove de Abril. Três anos.
O dia foi todo prestando atenção na respiração. Não estava funcionando. Precisava de concentração para o ar fazer o que tem que fazer.
Três anos atrás, uns meses mais, eram meus trinta anos. Trinta anos bateu pesado. Trinta milhões de questões.
O ser ou não ser de Shakespeare migra para o mito de Sísifo e desagua em por que fazemos o que fazemos de Cortella. E as relações interpessoais ganharam destaque nos meus questionamentos recorrentes.
Eu nunca fui popular. Nunca tive muitos amigos. A introspecção sempre minha aliada. Prezo por conexões de almas. Poucos e profundos a muitos e rasos.
Certo dia faleceu um tio do meu então marido. As crianças nas escolas. Passamos a tarde na despedida. Foram horas grudadinhos como ha muito tempo não. Relacionamento enfraquecido. Aquelas horas ~que Deus me perdoe~ foram de recarregar meu estoque de carência afetiva. Não há nada pior do que se sentir sozinha estando acompanhada. Local e situação não favoráveis.
Comecei notar as migalhas que eu estava permitindo implorar receber.
No meu fatídico dezenove de Abril, a dor mais avassaladora chegou. Meu pai se foi. Se foi definitivo. O alcoolismo já tinha levado, picado há tempos. As horas seguintes são infinitas e cruciais. A gente não quer estar ali. A gente precisa estar ali. Ali eu senti o peso da solidão. Eu coadjuvante. Cercada de familiares com a mesma dor que a minha. Algumas menores. Do meu irmão igual. Da minha vó maior. Todos se apoiando, se amando, se fortalecendo. Eu me senti extremamente só. Muitos amigos do meu pai, amigos da minha mãe, amigos do meu irmão. Eu sem nenhum. Meu marido chegou minutos antes do enterro. Minhas redes sociais se encheram de mensagens. Meus braços só receberam carinho de pessoas do meu sangue, que sentiam dores também.
Não quero que ninguém se sinta mau. Falo do que senti. Do que me faltou no momento mais triste da minha vida. Ninguém quer estar ali. A gente não vai porque gosta. Muitas vezes não vai por quem partiu. Sim por quem ficou partido.
Um tempo depois fui novamente. Não exatamente por quem foi. Fui por quem ficou. Meu sangue. Não queria que sentisse jamais o que senti quando foi minha vez. Tinha muitas desculpas. Tempo, distancia, filhos. Só fui!
Depois daquele dezenove de Abril nunca mais fui a mesma. As amizades e amores também. Não adianta colocar tudo no mesmo balaio. Reciprocidade é jóia rara. Continuo dando o meu melhor com todos. Só aprendi classificar amigos, colegas, o que tem que conviver, o que é melhor afastar, o que é só virtual, o que pode sempre contar.
Separei tanto que agora percebo que não tenho nenhuma amizade. Quase nunca fico só. Tenho minha mãe do lado (que mesmo sendo água e óleo, sempre juntas estamos), tenho alguma família (alguns muito ponta firmes, obrigada!), alguns virtuais (que alegram meus dias) e a maternidade que me ocupa toda a vida.
Quase sempre estou sozinha. Aprendi transformar em solitude. E isso é maravilhoso!
Há momentos como esse dia em que a solidão esmaga todos os meus órgãos vitais.
Sou grata por meu ano, há três anos, que me fez enxergar muitas coisas, à duras penas mas necessárias.
As vezes tenho medo de precisar fazer algum procedimento médico e não poder por não ter alguém do lado. Não ter número de emergência dói um pouco. Pode ser por ser. 100% do meu tempo me desdobro pelos meus.
Torcer para esse dia acabar logo.
E voltar para o cotidiano.
Dia a dia.
Dia após dia.
Despedaçando.
E replantando.
Solidão.
Solitude.
Só!
08/03/19
Na música Blue Monday da New Order, na versão do Health, tem uma parada na batida que eu amo. Parece que te da um respiro e te suga com toda surpresa e emoção (mesmo sabendo que ela irá acontecer), cancela aquela sua sequencia caminhando pra frente e te puxa pra trás. Ouça essa música. Escrevi a ouvindo em looping.
Março
Queria te dizer umas coisas mas tem coisa que nem tem que ser dita. Não precisa. Não convém. Não é da conta de ninguém.
Do lado aqui do lado teve uns despedaços e me doeu porque sinto aqui dentro também.
Só que sei que do lado dai também doeu e respingou aqui dentro também.
Tem uns lances nessa vida louca que nem se explica e tentar explicar desajusta o desajustado.
Sabe aquele “o que dizer de fulano que mal conheço e já considero pacas”!? Então. Tipo isso. Eu nem te conheço conhecido conhecedor conhecedente conhecedito conhecebrother, de presença, de dia a dia, de toque de pele…
Só que tem um lance de conexão, sabe-se-lá de vidas passadas ou algo assim ou algo de alma.
O ponto é que fico cá enviando pencas de good vibes pra ti e não é de hoje não e tenho certamente um lugar cativo na janelinha pra ver sempre seu sucesso em todos os aspectos da sua vida.
Cara,
Por favor
Seja feliz!
*Esse texto, escrevi para um amigo em momento decisivo e difícil. Gosto tanto e resolvi compartilhar.Já faz um tempo. Acho que foi em Agosto. Talvez Junho. Ou Março…