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30/07/17

Uma das minhas queridas primas, tem quase a mesma idade que eu, nossos filhos também tem idades próximas. Não nos vemos com a frequência que gostaria porém sempre temos muitos assuntos e afinidade para tricotar.
Nos tornamos mães pertinho e ansiamos sobrinhos juntas. Nossos irmãos nos deram essa herança na mesma época também.
Muito bom poder partilhar tantas descobertas com alguém a quem quer nosso bem e que amamos reciprocamente.
Em uma de nossas conversas, logo que nos tornamos titias, Dani me perguntou o que eu estava achando sobre a experiência. Sem podar a resposta, pude ser franca e respondi que estava frustrada.
Ser tia é bom, é maravilhoso. Porém não gostei. Não me senti confortável, não me sinto realizada, não me sinto útil. É superficial. Não é intenso. De certa forma, dispensável.
Como pode a gente amar um serzinho como se fosse nosso filho e não poder embarcar 100% nessa aventura dura e deliciosa!?
Amo de doer, de faltar meu ar, de dar a vida por ele mas não sei se esta alimentado, como dormiu, se tomou banho, se o pediatra está em dia, seu brinquedo favorito da vez, seus gostos e suas descobertas diárias. Não vi sua carinha ao nascer, seu primeiro cocô, suas cólicas, suas tentativas de mamada, seu primeiro sorriso, quando firmou a cabecinha, suas primeiras comidinhas, quando sentou, primeiros passos, cada palavra que aprende todo dia.
Por mais que o veja com frequência, tenho que manter certa distancia, nunca ultrapassando o espaço dos pais dele.
Pode ser porque a maternidade chegou aqui primeiro. Se o sobrinho tivesse vindo antes, talvez todo o sentimento fosse diferente.
Talvez se os pais dos meus filhos tivessem feito a parte deles e não somente tivessem me "ajudado" quando convinha, eu teria um outro olhar.
Hoje, depois de tantos anos maternando, sobrevivendo a esse limbo que a maternagem solo nos proporciona, me pego invertendo os papéis. Me sentindo pai. Que me frustra muito mais do que sendo tia.
Minha primogênita ha pouco foi morar com o pai. Fato que penso nunca poder superar. As circunstancias caminharam para isso, guardei minha emoção e a razão diz que devo seguir o fluxo e aguardar o tempo cumprir seu papel.
Ela ficou um mês morando lá. Chegou férias escolares e então ela passou um mês cá. Escrevo enquanto volto da rodoviária. Ela voltando para lá. Eu ao meu ninho 1/3 vazio. Com um pedaço do coração faltando.
Quando ela chegou, a alegria de tê-la de volta, dividiu espaço com a culpa. A culpa de sempre, só que aumentada e multiplicada. Passei uns três dias melancólica até que decidi viver um dia de cada vez, aproveitar os momentos juntas, pisar nos instintos, calar muitos nãos, evitar conflitos. Sim, esses conflitos necessários para educar. Os aqui de dentro continuaram, ainda mais atenuados. Abaixei o volume e fingi demência.
Algumas vezes fui a vó que troca agradinhos culinários ou disciplinares por afeto.
Muitas vezes fui o pai.
Aquele que deixa para a mãe educar depois quando ele não estiver mais por perto.
Aquele que quer compensar ausência com bens materiais.
Aquele dos passeios maneiros que desinteram as contas do mês seguinte.
Durante um mês fui um barquinho livre guiado pela maré.
Foi bom porque foi passageiro.
Nesse momento, todos aqueles delírios recorrentes sobre quem eu sou, de onde vim, para onde vou, missão, utilidade… Me dizem para vestir novamente minha armadura de mãe. Voltar a ser mãe. Que deve ser para isso mesmo que eu nasci.

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Sobre passarinho e ninho vazio

5 anos. Se passaram 5 anos sem nenhum auxílio. Não 5 anos sem ajuda. 5 anos sem ser feita a sua parte. 

5 anos é muito tempo?

5 anos é pouco tempo?

O tempo é muito relativo!

Do ponto de que 5 anos de uma vida de 13, é quase 40% do total e considerando que o tempo realmente não volta e não se repõe, não se compensa… Penso que é uma pequena eternidade ai. 

Há alguns meses, eu finalmente decidi formalizar um pedido de pensão para minha filha.

Mas por que só agora?

Por que agora?

Voltando no tempo. 14 anos. 

Eu tinha 17 anos quando engravidei. Um relacionamento recente, 3 meses apenas. O cara é aquele que apenas some. Evapora. 

Meu namoro anterior era prisão, eu passarinho. Relacionamento abusivo. 3 anos. Voei. Cai. Me despedacei. 

Apriore foi um voo lindo. Rasante. Alegre. Colorido. Destemido. Do dia para noite, puff, acabou. 

Por que acabou? Não sei. Só sumiu. Parou de atender o telefone. Não foi mais onde nos víamos quase que diariamente. 

Atrasou. Menina sozinha. Só uma vez. Ah, isso nunca vai acontecer comigo. Continua atrasado. Liga, não atende. Liga, não atende. Liga, não atende…

Faz o que? O teste?

Porque aguentar um sim sozinha seria enfrentar a família e a sociedade e dar adeus ao seu sonhado futuro acadêmico, profissional, pessoal… Além de carregar um coração partido, um psicológico fragilizado e um emocional abalado. 

Lá fui eu, ao campo de batalha. Quisera ter podido ir destemida, mas fui aos trapos, como dava.

Não houve um só dia naqueles 9 meses em que eu não chorasse ao menos 5 litros. Passava o dia todo no piloto automático. Quando saia do trabalho, tinha uma igreja no caminho. Lá era meu refúgio. Sentava por horas lá para chorar em paz. As vezes ia no shopping, as vezes no parque. Em casa era mais dolorido. As pessoas não incomodam desconhecidos chorando na rua. Cada um com seus problemas. 

Um certo dia no metrô, era dia dos namorados, eu ali desidratando, no banco da frente um lindo casal, ela com um buquê maravilhoso de colombianas. O rapaz me notou. Na estação de desembarque deles, gentilmente me deu uma daquelas rosas. Desabei em dobro. 

Tive muita sorte. Muitas pessoas me ajudaram com as coisas práticas. Ganhei o jogo do quarto de bebê de uma vizinha. Muitas roupinhas usadas de várias pessoas. Fiz um chá no trabalho e um em casa. Fraldas para todo o primeiro ano. Minha mãe e meu irmão foram minha fortaleza.

Consegui o endereço do pai. Enviei uma carta. A mãe que abriu. E a partir dai me foi um anjo. A mãe e o pai. Queriam a todo custo fazer o filho deles embarcar. Mas o barco estava em alto mar. Mar agitado. Eu tinha 17. Ele 5 a mais. Mas era moleque. Como dizia, não estava pronto. E eu estava? E alguém está? 

Em tal ponto reatamos. Eu amava. Eu sofria. Eu pensava no bebê. Ele prometia arco íris. Eu quebrava a cara, e quebrava a cara, e quebrava a cara. Ele sempre foi muito bom em não cumprir com nada do que dizia. Um cordeiro. Jamais um lobo. 

Todas as consultas ele dizia que ia. Todos ultrasons. Inclusive naquele em que descobri o sexo. Estava sozinha. E escolhi o nome. E fui muito julgada por não ter deixado ele opinar dias e dias depois quando resolveu aparecer e dizer que não queria aquele nome. Mudei de ideia. Óbvio que não. 

Ele diz que meu maior defeito é só fazer o que me dá na telha.

Eu nem vejo como defeito.

Se tem alguém junto para opinar e ajudar decidir as coisas eu super levo em consideração.

Mas se estou sozinha com os limões na mão, faço a limonada e não aceito reclamações posteriores. 

E assim seguiu. Meio junto. Oficialmente. Mas na realidade… A vida dele seguiu. Nenhuma meia ou fralda, ou leite. 

Eu tinha meu trabalho. Meu salário mínimo fazia milagres. Mais ajudinha das avós. De desconhecidos. 

Era duro. Só que a bagunça financeira era nada comparada com a bagunça emocional. Essa era insana. 

No final da gestação continuava aquele meio junto. Aparecia quando queria, como se nada tivesse acontecendo. Ficava e sumia com a mesma velocidade.

Dias e dias sem aparecer. 

O dia de nascer chegou. O que eu fiz? Pedi ajuda a quem estava presente. E só deixei avisarem depois que nasceu. Deus me livre tentar ligar enquanto precisava e ele não atender como de costume. E fui crucificada mais uma vez, claro. Não deixei ele fazer parte desse momento. Pedi então para nos levar do hospital para casa. Ah, ele não foi. 

Bebezinha ele vinha em casa a cada vários dias, brincava de cuidar por algumas horas. Tirava fotos lindas. Nas madrugadas, nas cólicas, nas consultas médicas… Nada. Puerpério é enlouquecedor. Aprendi na prática tanta coisa que nunca nem tinha pensado que viveria um dia. E o emocional daquele jeito. Mas quem liga? Eu havia morrido, vivia meu luto sozinha. Me tornei mãe. Não era mais eu. Era mãe. Fui mãe. Sou mãe. Sou tudo que preciso ser. Meu eu não importa. Tudo pelo meu bebê. 

As pessoas palpitam demais. Ali com 18 anos eu continuava ser uma menina. Mas tive que incorporar e ser mãe. Aquele meio relacionamento me matava. Eu não podia pensar em mim. Tudo pelo bem estar da minha filha. Ela não tem culpa dos meus erros, ela nunca poderia ter sequer um arranhão por conta dos meus desastres. 

Precisava voltar ao trabalho. Trabalho de merda, mas que pagava as contas. Não pode deixar a criança tão dependente da mãe, vai sofrer na escolinha. 

Ali comecei sofrer com a separação, minha e dela. 

Um pouco antes dor por tirar o peito exclusivo. 

E dor por deixar com o tio. E com minha mãe. Pra ela ser “independente” e não sofrer querendo só a mim. 

Sofri com o primeiro dia na escolinha. E com todos os outros dias seguintes. A separação doi muito mais na mãe. Crianças se acostumam.

E o meio relacionamento seguiu. Um dia ok, dezenas de dias cadê? Chegou o primeiro aniversário. Nenhum vintém pra festinha também. A mãe dele super ajudou. Então acho que ele entendia que estava tudo em ordem. Vieram alguns parentes do lado de lá. Conhecia a maioria. Dias depois da festa, soube que uma das pessoas era a namorada dele. Foi impactante. Sim, nós nunca tínhamos oficializado aquela relação, então não precisava de um término, certo!?

Pois ai eu acordei e aceitei que eu precisava oficializar as coisas sim. Por os pontos nos is. Definir lugares e formalizar visitas. Fui julgada novamente por querer impor minhas vontades. 

A coisa mudou totalmente de figura. Surgiu um cãozinho arrependido e mudado. O mundo e fundos das promessas de um felizes para sempre reinava forte. 

Palpiteiros palpitantes. Esquece seu eu, seu amor próprio, sua dignidade. A criança precisa crescer em um lar com pai e mãe. 

Lá fui eu desbravar um campo minado com a cara e a coragem. E um caminhão de esperança e boa vontade nas costas. 

Foi sem sombra de dúvidas, o pior ano da minha vida. Mentiras, ausências, traições. 

Foi um bom momento para a inocente criança. Sem escolinha, era cuidada pela dedicada vó. Avó aquela que me acolhia nas centenas de vezes que eu precisava de colo. 

Em um momento de lucidez, recolhi minhas bagagens e voltei pedindo acolhida á minha família.

Sempre, sempre! Tomando todas as dores só para mim e camuflando minha princesinha de todo alvoroço da vida desenfreada. 

Ali ela com seus 3 aninhos, precisei formalizar um final de relacionamento. E enterrar a auto estima que já me estava morta ha muito tempo. 

Eu nunca pedi sequer um real. Precisava muito de dinheiro. É inevitável. Todos precisamos para sobreviver. Com um salário pequeno e com criança é tão óbvia a necessidade. Não deveria ter que se pedir. E o que mais precisávamos eram coisas que não podiam ser compradas.

Que também deveria ser gratuito.

Os pais acho que pressionavam ele colaborar financeiramente. Mas é aquilo, quanto e quando dava na telha. Uma cosquinha que sequer dava para comprar as fraldas do mês. E aliás, nem era todo mês. Nesse dia 5, no próximo dia 20, depois de mais dois meses, dia 20, pula mais um e então dia 5. Dai saia do emprego. Meses e meses e meses. 

As visitas quase sempre os pais que buscavam. O que para mim era um grande alívio. Sempre soube que com os avós estava muito bem segura e protegida. 

Eu tinha certeza que um dia ele iria abandonar de vez. Que se eu fingisse que ele não existia, livrava de dores de cabeça e um dia ele não existiria realmente.

Quanto menos contato, mais harmonioso o convívio. 

Anos se passaram. Tive outro relacionamento. Outros dois filhos. Precisei parar de trabalhar. 

A família do pai dela se mudou para outra cidade. Os avós continuaram com o contato. Vindo buscar nas férias. Ele só a via quando os pais dele pegavam. 

Dinheiro nada. 

Meu casamento acabou. Precisei novamente recolher minhas bagagens e voltar para casa da minha mãe. Sem renda. Sem rumo. Acumulando dois ex babacas. Três filhos. Uma vida dedicada a eles. Sem ter feito nada por mim. Sem saber quem sou. Recomeçando. 

Tive que apelar para a justiça dos homens, pedir um respaldo financeiro para poder seguir a vida. Certa vez eu li que quando se vai na justiça, se trata de decidir quem vai sair mais machucado. Ninguém sai ileso. E sim, foi um processo muito dolorido. 

Agora voltando ao início do texto, depois de nunca ter colaborado de forma rotineira, ele passou 5 anos sem nadinha. Nada mesmo. Nem uma satisfação. 

Seguiu a vida. Casou. Teve um filho. Está adquirindo formação acadêmica. 

Como não moramos na mesma cidade, precisei do endereço dele para abrir o processo. Um processo público, com a agilidade previsível dos órgãos desse país. Aguardei 3 meses para o primeiro atendimento, só para descobrir o longo caminho burocrático que viria a seguir. O chamei para conversar. Disse que iria formalizar um pedido de pensão. 

Adivinhem só. Quem é a vilã novamente!? 

Você quer destruir a minha vida. Você não vai me colocar na prisão. 

Foram algumas das barbáries que ouvi.

Nunca vou te dar meus dados para você ferrar a minha vida. Eu estudo direito, você não sabe nada de leis, vai meter os pés pelas mãos.

Apelando para o bom senso, fui falar com a mãe dele. Comecei pedindo desculpa por a envolver nesse episódio. Pedi para que ela compreendesse e somente dessa vez, a primeira vez na vida, ela não viesse pegar a neta, ate que eu conseguisse dialogar com o pai dela. Ressaltei que nossa casa sempre será de portas abertas aos avós. E pedi para que ela me informasse o endereço para abrir o processo. 

Sim. Negado! Sim eu não deveria pedir nada na justiça. Sim, mãos devidamente passadas na cabeça do pobrezinho. 

Depois de muitas tentativas, me comprometi aceitar o valor irrisório que ele disse que poderia dar, consegui os dados e formalizamos um valor ridículo em uma audiência conciliadora. 

Obviamente, esse dinheiro nunca foi para mim. Ia direto para mão dela. Comprar um lanche na escola. Um tênis. Parcelar um celular. Hoje ela tem 13 anos e carrega toda o clichê da adolescência. Toda a doçura daquela criança amorosa se transformou em raiva destinada à mãe que ela chama de general. Toda veneração destinada ao pai herói. Àquele homem que ela nem conheçe e que promete mar de rosas te fazendo acreditar em cada sedosa palavra proferida. 

Culpa minha obviamente. Que cai na mesma lábia um dia. Que a protegi enquanto pude em um casulo. Que não a deixei ver cada dificuldade diária. 

Deixando meu eu enterrado, sempre pensando somente no bem estar dos filhos, virei a capataz, a vilã, a megera. 

Tendo que lidar com a dependência da ajuda, fui convivendo com o colo de uma vó depois de a reprimir, com a carência da outra avó que sempre a incentivava a ‘fugir’ para lá quando estivesse difícil por aqui. Ela sempre soube que tinha para onde correr quando apertasse. E a realidade do dia a dia, o leão morto todo dia, o processo de aprendizagem, o dia a dia são muito cruéis. 

A maternagem solo é muito pesada. 

Os dedos apontados são muito duros. 

A ajuda é escassa. 

O reverso da maré é muito forte. 

A adolescência é muito difícil.

E ser mãe de adolescente é insano! 

Engraçado que na prática, nunca houve sequer um outro parente do lado de lá estendendo a mão.

Nunca ninguém se ofereceu para passar um fim de semana.

Nem comprar uma caixa de leite. 

Nenhum apoio emocional.

Uma conversa empoderadora.

Um conselho para ouvir a mãe. Para ser companheira da mãe. Para dar valor a quem sempre esteve ali enfrentando o mundo incondicionalmente. 

Depois que não deixei ir passar as férias na casa dos avós virei ainda mais a malvada da história.

Exigir o mínimo de organização, disciplina e auxilio nas tarefas da casa é o fim do mundo.

Proibir de sair a noite, sair sozinha, sair com desconhecidos, é similar a prisão perpétua.

Monitorar o uso do celular é violação dos direitos civis.

Proibir namoro e lidar com os planos de fugir de casa. 

Rebeldias, falta de respeito…

Nenhuma autoridade.

Nenhum apoio.

Nada.

A cada briga, o evidente desejo de ir morar com o pai. Aquele sujeito santo que sempre quis participar mas não pode porque a mãe chata nunca deixou.

Aquele que disse na audiência que sempre deu de tudo do bom e do melhor e que batalha duro para garantir o futuro kkkkkkkkkk Desculpe, perdi o foco. 

Voltando.

Por mais dolorido que seja, decidi deixa-la ir. Realmente precisava de um alivio para minha cabeça. Ela precisava ver que existe dia a dia do lado de lá também, que passar férias e morar tem algumas diferenças. Ela não vai ver tão cedo o lobo. Espero mesmo que só conheça o cordeirinho. Fico menos tensa porque sei que a vó que faz tudo por ela, está lá. E embora meu coração seja apenas tristeza, quando eu deito, consigo respirar sabendo que sempre fiz tudo por ela. 

Eu não sei se essa situação é definitiva. Eu espero que não. Eu peço e recebo ajuda divina. E que ela tenha uma vida doce e próspera sempre!

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29/04/17

É meio complicado. Meio delicado. Meio estranho.
Mas vamos lá. Preciso falar…

Não sei como começar. Nem desenrolar. Nem como ser menos esquisito.
Eu precisava ter conseguido manter contato com o pai dos meninos. Eu tentei. Eu tentei muito. Abstrai todo meu sentimento, todo meu eu em busca do que seria melhor para o desenvolvimento dos meus filhos. Me anulo. Me humilho. Entoo mantras.

Não compreendo como ele pode simplesmente decidir não fazer parte.
Aquele cara que eu achei que conheci não existe. E tem uma versão dele ai que preciso encarar o resto da vida.

Não posso odiar.

E tenho que conviver.

E junto tem você.

Que não conheço também.

Assim como ele.

E tenho que entregar a minha riqueza em vossas mãos.
O cara antigo não era um bom pai. Nunca passou mais que 3 horas seguidas com os filhos sem a mãe por perto. Não desenrolava refeições. Raramente quando dava um banho sequer sabia onde as roupas ficavam guardadas. Ou qual era de cada criança. Não sentava pra brincar mais de 2 minutos. Nem assistia mais de 5 algo que eles queriam. Sempre dormia antes quando ia os fazer dormir. Nunca tirou férias. Sequer licença paternidade quando eu mais precisei.

Nunca estava casa. E quando estava não estava realmente presente.
Eu também nunca tive um pai participativo. Nunca soube como seria na prática um convívio ok.
Eu fui madrasta das meninas. Pode ser por eu ja ter uma filha antes de um outro pai lixo, eu sempre respeitei o espaço da mãe delas. E me desdobrava para que elas pudessem ter ao menos o mínimo de convivência paterna sadia. Nunca deixei ele ser padrasto direito da minha menina porque não existia afeto mútuo e porque mesmo não merecendo, queria preservar o espaço do pai caso um dia o sujeito resolvesse se assumir.
Então nessa, precisamos minimamente nos tolerar. Não nos amar. Só respeitar.
O que você conhece de mim não tem bons precedentes. Assim como o que imagino de você não deve ser o que realmente é.
Utilizando do bom senso, penso que você realize boa parte das tarefas que meus filhos demandam no tempo que estão com o pai. Anulando meus sentimentos frustrados, preciso reconhecer que eles aparentemente ficam bem. E sou grata por isso.
Gostaria de te agradecer por cuidar deles. Te pedir para que nunca desconte neles qualquer causa externa. Peço que respeite o meu espaço como mãe. E que possamos desfrutar da sororidade.

PS’s:

O pai deles me ignora não dando brechas para assuntos relevante sobre os meninos.

Mesmo assim insisto.

Seria interessante poder passar a você também caso haja espaço.

Como o fato do mais novo ainda fazer xixi na cama. Eu sempre mando fralda na bolsa. Ou o fato de sempre ter uma bolsinha de remédios com termômetro e os documentos deles junto.

E sempre uma troca de roupa porque normalmente há imprevistos.

Algumas vezes ele se recusa levar a bolsa. Ela sempre está arrumada e eu tento entregar.

Quando eu falei da cachorra, não foi criticando. Eu entendo como é ter um filhote. Só pedi com delicadeza para se tomar mais cuidado porque os meninos reclamaram de desconforto e voltaram com roupas rasgadas.

Outro vez choraram porque não puderam trazer pra casa os presentes que o avô deu.

Não aceito que vão se o pai vai trabalhar. Eles tem a mim, não precisam ser cuidados por outras pessoas. Quero que vão quando puderem desfrutar da convivência paterna.

No começo eu sofri desesperadamente com o término e sua presença me abalava. Agora não precisamos mais fingir que não nos vemos.

Podemos ser diplomatas. Se não lhe for inconveniente.

Queria ressaltar que meu contato com ele é estritamente sobre os filhos. O passado morreu no passado. Fato consumado. Jamais revogado.

 

***Esse texto, escrevi há alguns dias e ia publicar no meu blog. Um desabafo como carta aberta.

Foi logo depois de meu ex deixar meu filhos em casa voltando de um fim de semana com eles.

Logo que separamos, ele já assumiu um relacionamento.

Eu tentei ser madura, mas brevemente precisei exclui-lo das redes sociais para tentar preservar minha sanidade.

Em um momento de stalker ~superei-nãosuperei-superei-nãosupereimerdanenhuma~ mandei uma mensagem para até então, minha desconhecida, e pedi para ela por gentileza, respeitar meu momento de luto indo com calma na nova constituição da família comercial de margarina feliz. Ela delicadamente respondeu ok e inclusive (tão importante para mim naquele momento) parou de vir até minha porta na hora de buscar e trazer as crianças.

Meses depois, eis que ela ressurge. Meio que se escondendo rapidamente no carro quando apareci no portão.

Aquela situação me deu um estalo muito grande. Consegui deixar a emoção na gaveta e usar só a razão. Me questionei qual era mesmo o motivo de eu odiá-la. Pensei pensei e não encontrei. Não existe! Não era ela quem tinha um compromisso comigo e simplesmente caiu fora sem ao menos fechar a porta com dignidade.

Passei a madrugada em claro com o estômago revirado com aquela situação delicada.

Então surgiu o texto.

Então enviei diretamente a ela.

Então ela respondeu.

Tivemos uma boa conversa depois. Ela disse que se colocou no meu lugar. Agradeceu por meu momento de sensatez. Afinamos uns ps’s pendentes. Abrimos um canal de diálogo. Trocamos telefones. E parece que agora o bom senso reina.

A sensação de ter redefinido as definições de papel de trouxa deu lugar a esperança de um convívio pacífico e harmonioso para todos os envolvidos.

Graças a Deus!***

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28/04/17

Fiz a feira da semana com 20,00. Olha, isso é realmente algo a se comemorar. Arrimo de família que entende a complexidade disso. Primeiro de se ter sempre essa reservinha. Segundo por fazer ela render. 

Eu caminho pouco mais de 1km para chegar na feira que costumo ir as sextas feiras. Depois eu volto caminhando mais o mesmo tanto com sacolas pesadas. 

Hoje voltei com 3 sacolas. Muito realizada pelo meu pequeno milagre da multiplicação da vez. 

Consegui pegar banana, maçã, goiaba, repolho, alface, tomate, chuchu, pepino e batata doce. Tudo isso com somente os 20,00. O preço do tomate continua alto. O da banana em um dia longínquo foi atrativo. O horário ajudou. No fim os vendedores ficam mais amigos para não voltar com mercadoria. 

Estava realmente satisfeita com o custo/ benefício ali. 

Chegando em casa, vem a dona Maria reclamar que faltou pegar mandioca, batata e cenoura.

A gente separa, volta a morar com a mãe e ela se torna seu novo cônjuge…

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16/04/17


60 horas

Eu sai sozinha. Ouvi música no último volume. Saboreei um livro. Fechei os olhos no transporte. Relaxei. Suspirei. Ouvi meus próprios pensamentos. 

Fiz um dos meus programas favoritos. Cinema. Sozinha. Dois filmes na sequência. Vi um filme legendado. Pude prestar atenção em todas as falas, todas as cenas. 

Cheguei tarde em casa. 

Não precisei por ninguém na cama. Não atendi necessidades fisiológicas além das minhas.

Eu não fiz o faxinão da semana na casa.

Eu tomei um banho gostoso sem me preocupar com a água do planeta. De porta fechada. Sem me atentar com o barulho das crianças (ou com o silencio delas, que é ainda mais preocupante). 

Não liguei pra falta de depilação das pernas.

Não me importei com o pijama e o cabelo despenteado.

Não esperei presente.

Comprei um ovo de páscoa pra mim. Exclusivamente pra mim. Abri e degustei tranquilamente. Sem pensar em mais ninguém. Sem ter que lembrar pra qual filho dei o primeiro pedaço na refeição anterior pra poder dar o primeiro pro próximo para que nenhum se sinta prejudicado.

Dormi a hora que deu sono.

Dormi por 12 horas seguidas. Sem nenhum filho me solicitando. Depois de 13 anos de maternagem. Primeira vez. Um sonho muito almejado e enfim realizado.

Não me importei em cumprir pelo menos 4 refeições diárias. Comi quando senti vontade.

Perdi um almoço de família importante. Acordei muito tarde. Tudo bem. 

Não utilizei relógios.

Não vi redes sociais de quem me causa sequer um leve desconforto.

Me senti leve.

Em paz.

Renovada.

Só por hoje.

Que doce hoje.

Do meio pro fim voltou a culpa. Muita culpa. Parceira fiel culpa. 

Agora voltar a calçar os sapatos 36 que a vida me dá. 

Voltar para a rotina. 

Começa tudo de novo. 

E que bom. 

Graças a Deus por tudo isso! 

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04/04/17

Ausências
Das tantas coisas que não consigo entender nessa vida, a que mais me aflige é em relação as crianças. 

Por mais que eu tente, não compreendo como pode alguém viver sabendo que tem alguém sofrendo e sendo o motivo de tamanha dor. 

Nós adultos muitas vezes não conseguimos lidar com nossas frustrações, quem dirá crianças. Elas tem tantas coisas para aprender, para administrar, muita informação, pouca experiência, muita coragem, quase nada de covardia.

Covardia sim é deixar que eles carreguem o peso de nossos fracassos. 

Eu estou diariamente me fazendo acreditar e aceitar que não posso mudar aquilo que não dependia só de mim. 

Nesse processo, tento enterrar minha indignação com certas coisas, como a falta de comunicação (apesar das minhas dezenas de tentativas em assuntos relevantes, a ausência de resposta, mensagens totalmente ignoradas, sequer um ok ou um não). Mas o ponto alto é a falta de interesse. Não sou capaz de admitir que a pessoa não se importe, não questione, não se sinta curioso em saber como vão seus filhos. Se tem dormido, se alimentado, se desenvolvido, se as vacinas estão em dia, se o pediatra é confiável, se tem o que vestir, com o que brincar, onde dormir… 

Como um pai pode perder essa fase maravilhosa de alfabetização? Um dos momentos mais gratificantes do meu dia é ver o caderno e acompanhar na lição de casa. Ver meu pequeno juntando letrinhas na propaganda da tv, e a felicidade em cada conquista. 

Como consegue não vibrar a cada frase completa que o caçula desenvolve a cada dia. Como não se surpreender com cada pequeno avanço em suas atividades rotineiras?

Como consegue se satisfazer com 24h a cada 15 dias!?

Como não tem necessidade de ouvir a voz e as tagarelices todo dia?

Como consegue não ter tempo a sós, sem terceiros, nessa doce relação de afeto paternal?

Como consegue não atender o telefone quando um deles liga?

Como vive sabendo que um está doente, sem ligar depois e depois e depois para saber se melhorou?

Como diz que vem buscar e não vem? Uma, duas, três vezes seguidas. 

Como pode viver sabendo que tem um coraçãozinho cheio de tristeza, saudade e chorando sentindo sua falta?

O maior é muito maduro e isso me preocupa.

Ele na maioria das vezes fica calado. Não se pronuncia. Mas observa tudo e sente muito.

Quase nunca pede o pai.

Muitas vezes quando vê o irmão pedindo repete a mesma frase “não tem nenhum pai aqui, não adianta chamar”. Já disse “ele não vai vir, não sente nossa falta” e “ele é ocupado de mais pra lembrar da gente”.

Já o menor ainda não se cansou de pedir todo dia. De chorar todo dia. Cedo ou tarde vai se cansar também. Infelizmente. Ou felizmente. Não sei. 

A diferença é que enquanto vivíamos juntos (não exatamente juntos, tecnicamente…), eu dizia para eles, desde que nasceram, “papai nos ama”, “papai está trabalhando”, “papai logo vai estar conosco”, e realmente acreditava nisso, as palavras tinham verdade. Eles e eu acreditávamos. 

Agora o “papai os ama”, “papai está trabalhando”, “papai logo estará com vocês”, saem desacreditados da minha boca, eles percebem que dilaceram meu coração assim como percebo que dilaceram seus ouvidos e sentimentos.

Antes verdades esperançosas.

Agora mentiras consoladoras. 

Sofro por não conseguir suprir.

Morro a cada lagrima deles.

E a cada indiferença sua.

 

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05/03/17

Lembro-me da emoção na hora da compra de cada item para compor aquela casa. Lembro-me de vistoriar cada tapetinho de cada loja afim de encontrar o perfeito, o que combinaria direitinho com aquele meu pedaço do céu na terra. Minha casinha tão desejada e amada. 
Ele tinha um desenho gracioso de uma casa, com jardim, flores lindas e com os dizeres “Bem vindo ao nosso lar”. E se encaixava perfeitamente naquela realidade paralela em que só eu vivia. 

Dói e não é pouco. 

O que mata mais é ver que foi unilateral. Que não foi eterno enquanto durou. Que cada dia, de cada mês de todos aqueles anos, não valeram nada. N A D A. 

Saiu sem olhar para trás, sem conversa, sem carinho, sem respeito… Fiquei com a bagagem toda espalhada e carreguei nas costas. Me deixou no chão e sem chão. Ainda jogando aos quatro cantos sua felicidade e realização após sua libertação.

Ah, não existiu mesmo um “nós”!

O nosso lar não foi real, não era nosso. Não era um lar! 

O fato é que eu não conseguia substituir o outrora bendito, maldito agora, tapetinho da porta da sala. 

Finalmente deu certo! 

E me custou 3 reais. Apenas 3 moedinhas que tinha na bolsa. Mas a simbologia que aquele simples capacho basiquinho, quase sem graça, que passa despercebido pode me transformar, me libertar.

Um pequeno passo para um desapegado. Um grande passo em busca da harmonia sentimental daqui de dentro. 

Um milímetro de casquinha de machucado de cada vez! 

Amém! 

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16/02/17

Ser mãe é… 
É padecer no altruísmo. Abnegação. Ser trouxa pra ser mais exata. 

Ser mãe e ter um filho são coisas distintas. Eu sou mãe. Mas se tivesse o mínimo de amor próprio, deveria apenas ter filhos. 

Sim. É tudo aquilo piegas de incondicional, supremo, êxtase, sublime. A gente cresce. Eleva. É indescritível! 

Mas… Sempre tem os três pontinhos! 

Na maioria das vezes vale a pena.

Tem momentos que não. 

São 7h da manhã e já estou destruída. Preparei os filhos para as escolas. Acompanhei a mais velha, 13 anos. Não aceita sair apenas no horário, quer ir mais cedo, quer passar na casa das amigas, quer ir pelo caminho mais estranho, mais escuro, menos movimentado, quer ir “ali” com não sei quem, quer ficar na porta da escola, quer que a mãe morra. Não ouve. Não aceita. Dou espaço. Deixo ir. Deixo escorrer pelo ralo minha sanidade. Vez ou outra resolvo ir junto. Junto não! Que mico! Do outro lado da rua. Na quadra de trás. Maldito horário de verão que 6:30h ainda é tarde da noite. 

Clandestinamente. Feito criminosa. Depois invisível novamente. 

Voltei vagando caminho a fora. Pensamento longe. Sem observar os carros. Sem me preocupar ao atravessar as ruas. Dando aquele toque maroto ao anjo da guarda: fecha os olhos dai que eu fecho daqui, e aceito bem o que vier. Tanto faz! A vontade é de voltar pra cama, largar a agenda e dormir de novo pra ver se acorda direito na próxima. Sei que não vai funcionar. Egoísmo foi o item que não tinha na fábrica. Faltou! 

Três filhos de idades diferentes, escolas diferentes, tem uns apertos. Bimestre passado calhou da reunião de pais de dois serem no mesmo dia. Não da pra escolher, aperta daqui, corre dali. Me desdobrei e fui nas duas. Chegando na do caçula, a reação dele ao me ver de surpresa foi linda. Já chegando na outra, a cara de decepção e desgosto da mais velha foi inesquecível. Sem contar as palavras que ferem e eu tento nem reproduzir pra ver se somem mais facilmente. 

Eu erro!? Óbvio que sim. Muito! Nego meus erros!? Não! Os carrego e também suas metástases. O maior deles foi ter me envolvido com um pulha. Que me deu a melhor coisa da minha vida e também o pior fardo. Não posso me perdoar por ter dado um pai tão desprezível à minha menininha. Na verdade ele nunca foi pai. Apenas teve uma filha. 

E o fato é: ela o idolatra e proporcionalmente me odeia. 

Veja bem. Agora pode concordar que ter um filho é muito mais inteligente que ser mãe!?

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01/02/17

Criar um filho é tão insano!

Deve ser por isso que não se faz um sozinho. 

Precisa de um casal.

Imagina que louco deve ser fazer “só” a sua parte…

Esse lance de livre arbítrio deu muito errado.  

Ser humano

Desumano

Egoísta

Idiota

Vão

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20/01/17

Deus me livre de amar de novo!
Calma! 

Não me entenda mal. 

O amor é bom. É necessário. É essencial. É fundamental. 

Só que…

É complexo de mais!

Amar sozinho é muito triste.

Demasiado é dolorido.

Não reciproco é dilacerador. 

Amor perfeito é utopia. 

Eterno é sorte rara.

Efemeridades. 

Expectativas causam cegueira. 

Medo da solidão, conformismo. 

Excesso, desilusão.

Fui dormir sentindo falta de companhia, de carinho, de cineminha, jantar, passeio, mãos dadas, colo, conversas, planos…

Acordei com um abraço gostoso da calmaria me mostrando quanto é leve ser livre. 

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Resoluções de ano novo

Não que algum dia eu já tenha batido bem da cabeça mas esse ano o negócio está mais puxado.

Não que algum dia eu já tenha gostado dessas datas comemorativas mas esse ano está mais sensível. 

Não que eu seja boa em balanço e pró atividade para tirar os planos do papel mas esse ano conseguir levantar da cama já era uma vitória que precisava de um oscar por vez.

Então eu que sempre torcia o nariz quando alguém comemorava a chegada de um novo mês, de uma nova estação e de um novo ano, mesmo tendo me prometido não fazer mais resoluções, me pego aqui juntando uns pontos.

Sempre me incomodava o pessoal reclamando do ano que está acabando, dizendo que foi um péssimo ano, que aconteceram coisas terríveis, desastres naturais, tragédias, dificuldades financeiras, mortes, fins de relacionamentos, ops… Chegou onde meu calo apertou.

Sempre pensava que as pessoas não sabem agradecer com o que de bom foram agraciadas e só enxergam as partes ruins. 

Sempre achei que a mudança do relógio, do tempo, do calendário não mudam nada. 

Que o que realmente muda é o que vai dentro da gente. 

Que o coração é que faz a diferença.

Que a cabeça que tem que mudar.

Sim. Claro! Hoje entendo que não era a diferentona. Todo mundo pensa assim (ou a grande maioria).

É que tem coisas que nem nos atingem. Algumas de forma mais sutil. Algumas de forma destruidoras.

Ter um certo equilíbrio mental deve ser legal. Conseguir balancear o que manda o coração com o que diz o cérebro deve ser mais ainda. 

2016 não foi meu camarada.

Foi o primeiro que eu pensei “esse queria deletar!”. Então fui buscar la na lixeira se tinha algum outro que tivesse me tirado do eixo. Achei 2006. Em comum, final de relacionamentos. Revirando as gavetinhas, lá eu tinha um grande amor, grande mesmo. Decepção, orgulho ferido, me anulei em prol de tentar construir uma família…  

Olha só, no recente quase tudo igual. Não sou trouxa nova. Repeti a fórmula do fracasso! Nos dois casos nem dá pra julgar o ano como vilão. Nas duas vezes foram coisas de meses, tempos já acumulando. Dá pra dizer que foram neles o grito de basta. Então apesar de todos os pesares pesados, foram de libertação. 

Se por acaso acontecer outro amor, provavelmente serei tudo igual. Devo ser mais inteligente, sim. Devo fazer diferente, claro. Primeiro preciso me gostar. Me amar. Me valorizar. E se não tiver entrega, apego, amor… Não serei eu. Que Deus me ajude! 

Naquele momento e nesse igualmente existiam trapos, cacos, migalhas espalhadas pelo chão. 

E teve um abrigo. O mesmo. A mesma casinha, a mesma mãe. Os mesmos parentes e amigos. Amigos mudaram alguns, acrescentaram outros. 

Lá eu renasci.

Também passei por um longo inverno do lado de dentro. 

Estranho que a dor não caleja. Cada qual dói a sua maneira. 

Na fase de transição não dá pra entender nada. Tem que se manter resiliente certo de que nada dura para sempre. Se nem a alegria é eterna, quem dirá a tristeza. E precisamos conhecer as duas, as respeitar para que quando a outra chegar, a primeira valer a pena. 

Outro ponto que pulsa aqui no 16, foi que eu temia muito sentir remorso no momento que meu pai partisse. Surpreendentemente não o tive. Dor sim. E muita! Queria que muita coisa tivesse sido diferente. Queria ter feito muita coisa diferente. Eu fiz. Tudo que estava ao meu alcance. Financeiramente não tinha como. Fisicamente também não. Psicologicamente, deixa pra lá… Era um assunto que me fazia extremamente mal. Sugava todas minhas energias e abalava todas minhas estruturas. Só conseguia respirar quando me trancava e engolia a chave. Num cantinho escuro onde ninguém poderia entrar. 

E agora!? Como não me apegar cheira de expectativa em 2017!?

O plano para o ano novo é conseguir me recuperar desse. Tentar encarar despretensiosamente cada uns dos 365 leões que me aguardam. Buscar quietude na mente para sofrer menos com as decepções e se alegrar mais com as doces surpresas.  

Obrigada 16! 

Foi pesado, foi intenso, foi preciso. 

Se aprochegue 17!

Seja um professor amoroso! Seja gentil! Seja muito bem vindo!!!

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20/12/2016

E eu que não sei falar. E nem pensar. Escrevo! Escrevo porque não consigo organizar os pensamentos. Escrevo pra tentar entender. Escrevo pra respirar.

E eu que não bebo. Hoje tomaria um porre! Ou qualquer outra coisa que me fizesse sair de órbita. Sair da realidade. Descansar da vida. 

Queria um momento sem culpa. Uma dose de egoísmo. Uma dança com o amor próprio.

Só por hoje eu gostaria de morrer. E amanhã poder tentar de novo. Como se já não estivesse assim há tempos. Tantos dias duros. Tantas noites em claro. Tanta caraminhola descontrolada.

Queria o botão de parar de pensar. Esse da saudade faz muito estrago. Além de teimoso é nada inteligente. Onde desliga o sentir? É muita falta de dignidade.   

Uma pitada de calmaria nesse caldeirão de caos, por favor!

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05/12/2016

Não teve um que veio com o pé e o outro com a bunda.

Houve um desgaste. 

E quando estava insuportavel, eu que tive a descencia de formalizar as coisas.

Ou seguimos juntos, ou aceitamos que não estamos mais no mesmo barco. 

E foi assim. 

Eu sei que não deveria me martirizar por uma coisa que não dependia só de mim. 
Sei que preciso deixar pra traz tudo que não me leva pra frente.

Cansada de ter que reafirmar a todo momento tudo o que o cerebro já sabe. Coração tolo! 

Odeio que ainda o amo. E quero odiá-lo pra ver se o esqueço.

Acabo esquecendo do que preciso lembrar. Das dezenas de pequenices e centenas de tentativas em vão. Da abnegação e do amor próprio que tanto me faz falta.

Desejava com toda força do universo que desse certo. E a frustração é navalha impertinente aqui do lado de dentro.

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16/11/16

Morrer de amor.
Ou por amor.
O amor morreu.
Ou o amor matou.

Enlouquecidamente buscando sentido em continuar vivendo quando o amor morreu. Na verdade foi apenas tentativa de homicídio. Não houve 100% de sucesso. Ainda tem pulso. Restaram muitas sequelas…

Imagino o quanto insano deve ser perder o seu amor, no sentido de morte mesmo, quando há um falecido, literalmente.
Morreu, morreu!
Fica lembrança. Vira saudade.

Mas o tanto que imaginei que perder um grande amor, e ele continuar vivendo, pode ser tão devastador, não é mensurável.
Ainda vivo, resta o que?
Admitir que o pra sempre, acaba. Que o nós, só existiu enquanto convinha. Que sua vida foi uma ilusão. Que a sua exclusividade, era tão substituível quanto se pode trocar de roupa. Ou nem isso. Certas roupas ainda temos apego. É como ser um papel higiênico. Usou, não serve mais. Joga fora!

Todas as lógicas, a mente já aceitou, já processou, já se conformou.

Maldito é esse infeliz coração teimoso.
Desgraçado!
Idiota!
Mau amado!

Como viver tendo morrido de amor?
Por amor.
Por desgosto.
Lastimável burrice!

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Eu consegui dormir no meio da cama!

Até então, ocupava metade e a parte que foi deixada, permanecia intacta.

Quando a gente é criança, deseja uma cama bem grande pra se esticar e ocupar todos os seus centímetros.

Depois que casa, a gente divide, hora provando que dois corpos podem sim ocupar o mesmo espaço, hora se equilibrando para não cair dali. 

E quando separa, não se sabe o que fazer com a imensidão. Com o que restou. Como jogar tetris com a partes a serem remendadas.  

Nesse processo de se reencontrar, tudo muda! 

Alguns hábitos são mais difíceis de lidar. 

Sem perceber, umas coisas ficam intocadas. 

Umas coisas básicas são executas automaticamente. 

Umas coisas complexas são deixadas pra depois.

Por aqui, todas ainda doem. 

Mesmo as que por alivio de ter me livrado, até as que lamento ter perdido. 

Não consigo saber qual é qual. Dia vejo claramente, dia penso ter catarata. Dias prefiro nem pensar… 

O fato é que organizar é coisa de formiguinha, que trabalha duro pelo próximo verão desde o outono. 

Bem verdade é aquela frase do transporte público que diz para aguardar primeiro o desembarque para depois embarcar. Literalmente! Filosoficamente! Pateticamente! 

E agora depois de uns meses da chegada desse último furacão que fez morada em minha vida, eis que um fato corriqueiro fez um estalo por aqui. 

Será que é o primeiro passo pra deixar pra tráz tudo o que não me leva pra frente?

Pode significar absolutamente nada. 

Prefiro enfeitar e acarinhar esse coraçãozinho carente de esperança por dias melhores.