Há uns 15 dias eu estava muito preocupada com o #covid19 a ponto de ter pelo menos 30 crises de ansiedade por dia. Medo do incerto. Medo pois as pessoas não estavam levando a sério mesmo tendo dados e fatos reais pelo mundo. Medo pois sou responsável por mais 4 vidas e sou só.
Eu nem me preocupo muito em ficar. Seria o melhor cenário aliás. Meu desespero é o que fazer se um de casa ficar. Acompanhar um e deixa os outros à mingua!? Crise de ansiedade não mata! Só sequela. Consciência de classe é oposto a tranquilidade e positividade! Tipo o Titanic que não tinha bote para todo mundo… A gente bem sabe para que lado a corda arrebenda primeiro.
Sentir na pele gente de casa zombando da sua preocupação com o grupo de risco, saindo de casa e sequer lavando as mãos quando chega. Detalhe que não sai para nada do cotidiano, dos cuidados coletivos, como mercado, padaria, banco. Sempre desculpa de dor, de idade, de pouca mobilidade. Levar um lixo na rua não pode. Para festas e eventos não tem dor. Quando se deve ficar em casa, inventa mil e uma atividades indispensáveis para o bem do seu próprio umbigo. Na internet compartilhando “vamos ficar em casa”, “heróis” com a galera da saúde e orações o tempo todo! Me enlouquece!
Esses últimos dias eu estive mais calma. Passei uns 3 dias sem crise. Ontem recai. Hoje bem até o momento. São altos e baixos. Como sempre, me coloco lá no escanteio, sou suporte para todos. Me dedico para deixar as crianças bem e menos possível ociosos. Relevo boa parte das injurias da adolescente e entoo mantras para aguentar a mãe teimosa.
Duas crianças, uma adolescente e uma idosa. As vezes tudo o que eu preciso é de uma conversa com gente. Sinto que estou definhando intelectualmente e quando encontro alguém, descambo e volto para o meu limbo habitual.
A quarentena, ou melhor, o distanciamento social que o momento pede, é a parte mais fácil para mim, já que adoro ficar enclausurada. O problema é a tensão. Ter que lidar de muito perto com pessoas que odeiam não socializar.
Dias atrás passei na casa da vó só para ver ela mais uma vez antes do caos total fazer as escolhas de quem levar. Eu do portão, ela da janela. Bença vó. Deus abençoe. Se cuida. Se cuida também. Te amo. Te amo. Tchau.
Achei o máximo a escola dos meninos, que é pública, mandar online, lição pra fazer em casa a semana toda. Nem 2 horas ainda fazendo juntos lições distintas para o 1º e para o 4º ano, já começo repensar a vida. Eu não me formei em pedagogia!
Minhas coisas ficam sem fazer. Não consigo trabalhar por não deixarem me concentrar em nada sem requisitarem atenção a cada minuto. E quando tento fazer algo que gosto não consigo me concentrar pq a cabeça não relaxa. Não leio um livro, não assisto um filme. Improdutiva real!
Eu comi tudinho as unhas nos picos de ansiedade. Não comia há uns 30 anos. Depois ficam horríveis! Tudo despelando, desfarelando, descamando, arranhando. Credo! Depois de uma semana que começa dar pra ajeitar. Quando a gente faz e com uma semana já estão feias, uma semana é rapidinho. Quando quer que ajeite, uma semana é uma eternidade.
O piercing do nariz que tirei, tenho desde os 16. Mais da metade da minha vida. É tão estranho ficar sem. Mexo como se estivesse lá. Acho que não acostumo sem. Surtar sem demonstrar. Respirar numa crise, fingindo que não está sem ar. Chorar escondida e responder que o vermelho dos olhos é alguma alergia. Aguentar o sono do dia pós noite inteira de insônia. Não deixar os outros preocupados. Essa é a meta!
Não tenho cabeça pra nada. Já mandei mensagem para as pessoas que mais amo. Não lido bem com remorso. Precisamos fazer as coisas enquanto ha tempo. Não só nesse contexto mas em toda a vida.
E nessa mesma linha, nesses momentos de incertezas, vemos quem realmente está conosco. Quem se preocupa. Quem se faz presente mesmo distante. E quem mesmo próximo, sempre esta longe…
A neurose de quem é cuidador é tão grande que já fui meio que deixando as coisas encaminhadas para as pessoas caso eu falte. Anotei logins e senhas. Tirei brincos e piercings. Enumerei orientações para os próximos meses.
Dos privilégios que eu queria ter, o único relevante seria o direito a desabar.
As vezes eu só queria um colo. Nem seria para desabafar. Só pra descansar! Não queria alguém para carregar o meu fardo. Só alguém que não me fizesse carregar o dele. E que pudéssemos descansar juntos. Com leveza. E afeto.
Quando tudo isso passar, todos estiverem seguros e bem, preciso muito de uns dias reclusa. Em outro lugar. Sem telefone, sem internet. Sem ter que fazer comida, cuidar da casa. Sem responsabilidades.