Acompanhei por alguns anos, uma famosinha da internet, que eu achava ter uma vida interessante. Gostava do jeito dela, do jeito que levava a vida, do jeito que se esforçava para mostrar simplicidade em meio a abundância. Ela sempre reforçava que tudo que conquistava era fruto do próprio esforço. Me incomodava um pouquinho ela querer diminuir, a todo custo, a influencia dos pais ricos. Relevava. Certo dia, em um de seus discursos do “eu mereci, me esforcei, vc não consegue porque não quer”, foi onde percebi que estava dando audiência a quem não valia meus minutos preciosos de atenção. Ela estava contando de quando começou trabalhar e revertia 100% do seu pagamento para comprar mais coisa e vender e comprar mais e vender mais, fazendo o dinheiro multiplicar muito facilmente. Tive um estalo. Deixei de seguir e nunca mais tinha pensado nessa pessoa.
Comecei trabalhar com 14 anos. Recebia só uns trocadinhos. Até ali, meus pais compravam o mínimo de material escolar possível. Um caderno do mais simples, um lápis, um apontador, uma borracha e uma caneta. Estojo e mochila, o novo era para meu irmão, o resto dele… Já sabia que teria que durar o ano todo e se perdesse, ficaria sem. Tinha muita vergonha e quando mediam emprestado, me apavorava. Zelava e fazia milagre para aguentar o ano letivo. O que eu fiz com meu primeiro dinheirinho? Comprei uma caneta. Depois algo colorido. Depois algo com estampa. No outro ano um fichário com folhas abundantes. Tudo do meu gosto. Pude escolher. Comecei comprar um doce aqui, um salgado ali. Conheci a cantina. Ah, quando consegui vestir minha primeira blusinha sem ser de doação… Foi incomensurável!
Com 16 anos veio o primeiro emprego com carteira assinada. A primeira coisa que comprei foi um discman. O auge! E também no primeiro salário, paguei contas básicas de água, luz, mercado. Eu não ficava com quase nada do meu pagamento. O quão pesado é isso, só quem viveu, sabe. E a parte financeira era a que menos me doía naquela família. Maldito altruísmo que nunca me deixou ser protagonista na minha própria vida.
Como poderia nivelar minha história de sobrevivência com a vivencia da blogueira quando nossos passos caminham por percursos tão singulares!? Eu sei os caminhos que trilhei. Eu sei onde meus calos apertam. A gente não vem do mesmo lugar. E mesmo quando vem, como no caso, eu com meu irmão, não temos os mesmos instrumentos, os mesmos amparos, as mesmas oportunidades.
“Fazer o seu melhor na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda.” Essa frase do Cortella é um mantra, um guia.
Fiz uma atividade do curso de fotografia de produto. Eram dez fotos no estúdio. Luz totalmente controlada, ambientes favoráveis, equipamento de ponta. Depois um computador top de linha, um programa de edição dos melhores. Orientação. Coleguismo. O céu na terra.
Minha história com o artesanato é de amor. Tornar ele rentável é dor. Gosto tanto de fazer. Ele não é autossuficiente. Viver custa dinheiro. Preciso fazer dele um negócio. Tenho muito claras as minhas limitações. O tanto que eu já bati cabeça anteriormente, sozinha, sem apoio, sem norte, sem rumo, com material precário e sem conhecimento. Se a modéstia permitir, reconheço que sempre fiz milagre. Ah, mas não precisa de ter as coisas, só vai lá e faz. Sim. Da pra fazer sim. Mas ter… Faz toda diferença!
As fotos que fazia dos meus produtos, ja aplicava muitas técnicas das que aprendi agora, instintivamente. O fundo, luz, cenário, composição. Só que o improvisado. O que tinha. O que cabia. Agora queria os instrumentos facilitadores. Não tenho. Não consigo tê-los no momento. Vou precisar continuar rebolando. Observando minhas prioridades.
Trabalho com vídeo ha anos e ainda padeço. Como é que quero transformar minha arte em em um negócio rentável quando conheço as pedras no caminho. As conheci tropeçando.
Participei de um treinamento sobre vendas e planejamento financeiro. Ah, como as pessoas adoram acreditar em formulas mágicas. Em um exemplo hipotético, um empreendedor conseguia prosperar em meio a dezenas, centenas. Cada um tem uma perspectiva e para mim só mostrou como o exemplo do outro não serve nada para mim. São tanta variáveis. Não compreendo a idolatria por coaching. Claro que insights são bem vindos. Aplicar no seu contexto, na sua realidade.
Como é que se espera que eu faça limonadas com meus limões sendo que nem de limonada eu gosto!? Talvez eu queira usá-los apenas no preparo de alimentos mesmo, e funcione bem.
Ter minimamente consciência, já é ter muita coisa!