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29/11/24

A relação que você tem com os seus pais hoje, na fase adulta, é a relação que eles tinham com você, quando você era pequeno e totalmente dependente deles. 

Pare de absorver pessoas que estão em falta com você sob o pensamento de que elas deram aquilo que elas podiam dar. Nem sempre. As vezes elas só não queriam dar nada mesmo. 

Ontem parei em um video no tiktok em que a moça, uma psicanalista, diz apenas essa primeira frase. O video ficou repetindo incontáveis vezes ate que sai do transe e consegui deslizar a tela. 

Hoje aconteceu semelhante quando me peguei presa no video de um rapaz, neuropsicólogo, com a segunda frase rodando sem parar. 

Mais cedo, na minha faxina e só no tempinho em que estava cuidando da cozinha, minha mãe passou no meio, cinco vezes. Todas as quatro primeiras, respirei fundo e me obriguei ressignificar o ódio que senti. Na quinta, soltei a vassoura e perguntei se ela se lembrava de me dar vassouradas na cabeça quando eu era criança, por apenas existir. Eu me escondia, saia da frente, não atrapalhava, não falava, não respirava para não ser notada. Mesmo assim, vez ou outra, tomava a lapada se o dia dela não estava bom.  

Não falei porque queria brigar. Na verdade não sei porque falei. Acho que foi só um desabado. Ela me ignorou, olhou com aquela cara de “você está louca, nunca fiz isso” e saiu se fazendo de coitada. Fiquei me sentido pior ainda pois veio aquele amargo de ser sempre a louca. 

Ha uns meses, fui até meu irmão, conversar sobre um assunto importante. Não se resolveu nada. Falei meu ponto, ele falou o dele. Um tempo depois, voltei ao assunto e ele disse que eu nunca tinha falado sobre aquilo. Fiquei frente a frente e pedi pra ele, olhando nos olhos, falar que não se lembrava de eu ter o procurado, tal dia, tal hora, em tal lugar. Ele categoricamente respondeu que eu nunca tinha tocado em tal assunto. 

Quando era criança, criei o hábito de anotar as coisas. Escrever, escrever, escrever. Tantas coisas que vivemos e parecem absurdas, as vezes a memória quer esquecer. Gosto das minhas notas que embasam minha sanidade. Isso quanto as coisas que outrem fazem. As coisas que eu faço de errado ao outros, essas a memória permanece intacta, como as vezes em que reproduzi as violências que sofri, na minha filha. Cada vez que levantei a vassoura pra ela, quando criança, sendo apenas criança, ativa e não estátua, todas essas vezes me rasgam e despedaçam. Não era consciente mas era. Foi. E sofro. E ainda sou besta o suficiente para agradecer a Deus pela alienação da minha mãe. Pra ela pouco importa. Ruim sou eu que não a idolatro. E agradecer principalmente por eu não ser capaz de tratá-la como fui tratada desde nascença…