É meio complicado. Meio delicado. Meio estranho.
Mas vamos lá. Preciso falar…
Não sei como começar. Nem desenrolar. Nem como ser menos esquisito.
Eu precisava ter conseguido manter contato com o pai dos meninos. Eu tentei. Eu tentei muito. Abstrai todo meu sentimento, todo meu eu em busca do que seria melhor para o desenvolvimento dos meus filhos. Me anulo. Me humilho. Entoo mantras.
Não compreendo como ele pode simplesmente decidir não fazer parte.
Aquele cara que eu achei que conheci não existe. E tem uma versão dele ai que preciso encarar o resto da vida.
Não posso odiar.
E tenho que conviver.
E junto tem você.
Que não conheço também.
Assim como ele.
E tenho que entregar a minha riqueza em vossas mãos.
O cara antigo não era um bom pai. Nunca passou mais que 3 horas seguidas com os filhos sem a mãe por perto. Não desenrolava refeições. Raramente quando dava um banho sequer sabia onde as roupas ficavam guardadas. Ou qual era de cada criança. Não sentava pra brincar mais de 2 minutos. Nem assistia mais de 5 algo que eles queriam. Sempre dormia antes quando ia os fazer dormir. Nunca tirou férias. Sequer licença paternidade quando eu mais precisei.
Nunca estava casa. E quando estava não estava realmente presente.
Eu também nunca tive um pai participativo. Nunca soube como seria na prática um convívio ok.
Eu fui madrasta das meninas. Pode ser por eu ja ter uma filha antes de um outro pai lixo, eu sempre respeitei o espaço da mãe delas. E me desdobrava para que elas pudessem ter ao menos o mínimo de convivência paterna sadia. Nunca deixei ele ser padrasto direito da minha menina porque não existia afeto mútuo e porque mesmo não merecendo, queria preservar o espaço do pai caso um dia o sujeito resolvesse se assumir.
Então nessa, precisamos minimamente nos tolerar. Não nos amar. Só respeitar.
O que você conhece de mim não tem bons precedentes. Assim como o que imagino de você não deve ser o que realmente é.
Utilizando do bom senso, penso que você realize boa parte das tarefas que meus filhos demandam no tempo que estão com o pai. Anulando meus sentimentos frustrados, preciso reconhecer que eles aparentemente ficam bem. E sou grata por isso.
Gostaria de te agradecer por cuidar deles. Te pedir para que nunca desconte neles qualquer causa externa. Peço que respeite o meu espaço como mãe. E que possamos desfrutar da sororidade.
PS’s:
O pai deles me ignora não dando brechas para assuntos relevante sobre os meninos.
Mesmo assim insisto.
Seria interessante poder passar a você também caso haja espaço.
Como o fato do mais novo ainda fazer xixi na cama. Eu sempre mando fralda na bolsa. Ou o fato de sempre ter uma bolsinha de remédios com termômetro e os documentos deles junto.
E sempre uma troca de roupa porque normalmente há imprevistos.
Algumas vezes ele se recusa levar a bolsa. Ela sempre está arrumada e eu tento entregar.
Quando eu falei da cachorra, não foi criticando. Eu entendo como é ter um filhote. Só pedi com delicadeza para se tomar mais cuidado porque os meninos reclamaram de desconforto e voltaram com roupas rasgadas.
Outro vez choraram porque não puderam trazer pra casa os presentes que o avô deu.
Não aceito que vão se o pai vai trabalhar. Eles tem a mim, não precisam ser cuidados por outras pessoas. Quero que vão quando puderem desfrutar da convivência paterna.
No começo eu sofri desesperadamente com o término e sua presença me abalava. Agora não precisamos mais fingir que não nos vemos.
Podemos ser diplomatas. Se não lhe for inconveniente.
Queria ressaltar que meu contato com ele é estritamente sobre os filhos. O passado morreu no passado. Fato consumado. Jamais revogado.
***Esse texto, escrevi há alguns dias e ia publicar no meu blog. Um desabafo como carta aberta.
Foi logo depois de meu ex deixar meu filhos em casa voltando de um fim de semana com eles.
Logo que separamos, ele já assumiu um relacionamento.
Eu tentei ser madura, mas brevemente precisei exclui-lo das redes sociais para tentar preservar minha sanidade.
Em um momento de stalker ~superei-nãosuperei-superei-nãosupereimerdanenhuma~ mandei uma mensagem para até então, minha desconhecida, e pedi para ela por gentileza, respeitar meu momento de luto indo com calma na nova constituição da família comercial de margarina feliz. Ela delicadamente respondeu ok e inclusive (tão importante para mim naquele momento) parou de vir até minha porta na hora de buscar e trazer as crianças.
Meses depois, eis que ela ressurge. Meio que se escondendo rapidamente no carro quando apareci no portão.
Aquela situação me deu um estalo muito grande. Consegui deixar a emoção na gaveta e usar só a razão. Me questionei qual era mesmo o motivo de eu odiá-la. Pensei pensei e não encontrei. Não existe! Não era ela quem tinha um compromisso comigo e simplesmente caiu fora sem ao menos fechar a porta com dignidade.
Passei a madrugada em claro com o estômago revirado com aquela situação delicada.
Então surgiu o texto.
Então enviei diretamente a ela.
Então ela respondeu.
Tivemos uma boa conversa depois. Ela disse que se colocou no meu lugar. Agradeceu por meu momento de sensatez. Afinamos uns ps’s pendentes. Abrimos um canal de diálogo. Trocamos telefones. E parece que agora o bom senso reina.
A sensação de ter redefinido as definições de papel de trouxa deu lugar a esperança de um convívio pacífico e harmonioso para todos os envolvidos.
Graças a Deus!***