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19/09/18

Eu precisava resolver uma burrocracia. Tem coisa que é chata mas precisa ser feita. E não tem quem faça por nós. Fingir que não existe não faz sumir. Tem que ir la e fazer. Ponto. Ainda posterguei uns dias, confesso. Não pela tarefa em si. Por todo o contexto do que vivi naquele lugar. Não exatamente pelo local que precisava ir. Por todo o entorno dele.

Decidi acabar logo com aquilo. Ir. Defini dia e hora. Cumpri. Mas o tempinho antes… E o durante… Misericórdia!
Sofri bastante no antes. Sofri muito no durante. Aguentei firme bem antes. A crise de ansiedade chegou com os dois pés na porta. Todos os sintomas físicos e incontroláveis. A cabeça até tenta. Em vão. Instintivamente entoando o mantra: respira, respira, respira! Vem dor de barriga, vem falta de ar, vem boca seca, vem náuseas. Parece que a alma desprende do corpo. É como se você vivesse em terceira pessoa.
A cabeça da gente é um troço muito complexo! Uma hora parece que vai enlouquecer. Passa o tempo e parece que superou. Uma faisquinha de nada faz reviver e remoer coisas que não devia.
Já fazem dois anos que me mudei. Que encarei o fim de um relacionamento. Que recomecei a vida. Ou tento. Tento todo dia. Tento a todo momento. Achei um pouco longa e necessária essa reabilitação. Hoje foi o dia que precisei voltar pela primeira vez no bairro em que morava. De antemão decidi mudar o caminho e não passar em frente a minha antiga casa. Que lindo momento de lucidez! Porém todas as ruas em que andei me trouxeram muitas lembranças. Cada passo que dei me remetia aos que andei todos aqueles anos. Cada estabelecimento que passei me levava para os momentos que vivi ali. Cada segundo continha centenas de flashs de cenas que ardem na memória.
Estava com meu filho. Ele continua frequentar aqueles locais. E em sua inocência me contando onde vai com seu pai e sua outra família. Mostrou onde é a padaria que tomam café, onde passeiam com o cachorro, onde se divertem. Em todos os meus locais cheios de lembranças. Eu totalmente em crise. Escondendo meus sintomas físicos, a sudorese das mãos e meu descolamento da alma com o corpo.
Eu adorava aquele bairro. E pude constatar que não devo revisitá-lo.
Me despedi passando na distribuidora de doces, comprei minha adorável caixa de chocolates com precinho amigo, fui atendida por aquela mesma moça que ha uma década tem a mesma cara de ranzinza, não responde o boa tarde e finge que não ouve o meu muito obrigada.
Tem coisa que nunca muda.
Tem coisa que muda e a gente mais cedo ou mais tarde tem que aceitar.
Tem lugares que nos mudam.
Tem lugares que devemos evitar.
Temos que enfrentar nossos fantasmas. E mais ainda respeitá-los. Dar tempo ao tempo. E honrar nossa trajetória. As cicatrizes servem para nos lembrar que nos mantemos vivos. Lá no fundo pode doer. Por fora está fechadinho e ainda tem uma charmosa beleza que precisa de bons olhos para serem notadas.
Passou! Sobrevivi! Vivi!
Tudo vai ficar bem!