Na música Blue Monday da New Order, na versão do Health, tem uma parada na batida que eu amo. Parece que te da um respiro e te suga com toda surpresa e emoção (mesmo sabendo que ela irá acontecer), cancela aquela sua sequencia caminhando pra frente e te puxa pra trás. Ouça essa música. Escrevi a ouvindo em looping.
É a mesma sensação daquele brinquedo, o boomerang, que tinha no playcenter. Eu amava ir naquilo. Era o que tinha a maior fila e os poucos minutos no carrinho, valiam cada segundo de espera. Dava vontade de sair e voltar pra fila de novo, de novo e de novo. Pra quem não conheceu, era uma montanha russa muito emocionante que ia até o final e de la fazia o caminho novamente só que de costas. Maravilhoso!
Quando eu tinha 20 anos, já tinha uma filha, já era mãe solo, já tinha “casado” e já tinha separado. Morava sozinha com minha pequenininha. A gente era muito parceira.
A parte de deixar ela ir aos finais de semana pra casa do pai era insano pra mim. Eu saia do trabalho ao meio dia no sábado. Sempre inventava um lugar pra ir, distrair, mudar o foco. Eu ia no playcenter sozinha. Ao menos uma vez por mês. Ali eu extravasava fazendo algo que gostava, podia chorar, gritar, me emocionar o quanto precisasse.
Hoje levando minha menina, agora com 15 anos, na rodoviária, passamos boas horas juntas, só nós como era antigamente, sem irmão, sem padrasto, sem vó. A gente foi de trem, como fazia antigamente (tem o trem e o metro, quando estou sozinha prefiro o trem que é mais rápido, porém anda mais e sempre lotado, caminho todo em pé). Eu contando pra ela as altas aventuras que já vivemos ali, os passeios, os apertos. Engraçado que cresce e meio que esquece. Depois esperando o horário do embarque, sentamos no chão e ficamos horas conversando. Ela disse que agora eu estou legal. Que a gente até pareceu amiga. O ônibus partiu e então eu comecei refletir.
Mês passado ela voltou para casa. Passou 20 meses morando com os avós paternos no interior. Foi para ficar com o pai. Tem coisa que nunca muda… Os quase 400km não permitia muitas visitas. E nessas, as despedidas eram cada uma, um martírio horroroso. A alma saia, e meu corpo cumpria a obrigação de forma automática. Permanecia firme, de pé, quase sereno até o momento do ônibus sair. Percorria toda a rua até perder de vista e então os olhos fechavam e o corpo desabava. Demorava uns momentos até me recompor e seguir de volta para casa, também no automático até que conseguisse voltar a respirar no compasso necessário.
Esse tempo longe por mais dilacerador que me foi, trouxe bons aprendizados. Para mim e para ela.
Eu poderia dizer que nos distanciamos por inúmeros motivos. Dar dezenas de desculpas. É muito fácil rotular como fase. Por a culpa na adolescência. Ou mesmo na pane emocional derivada de psiques mutantes, nunca tratadas e acumuladas.
Ha finais que não são de fato o fim. Só existe um que de fato é. Aquele que tememos por não saber o que acontece depois. A fé de cada um que determina. O que sabemos mesmo é que finda ali. Para todos os outros finais temos recomeços. Muitas vezes parecem definitivos, tira o ar, tira o chão, tira sua sanidade. A gente precisa acolher o momento. Viver intensamente, mesmo esses fins. Analisar nossas trajetórias, respirar e recomeçar quantas vezes for preciso. No boomerang, com tudo indo para o lado errado. Ou na vida sem nenhum norte. As vezes pode parecer só mais do mesmo. Mas não é. O eu de hoje é maior que o de ontem e menor do que o de amanhã.