texto de 05-07-23

Encontrei essa foto embaixo de outra foto, escondida no álbum. Não gostava dela. É tristeza escancarada. A gente costuma esconder tristeza. Fiz essa foto no Playcenter. Foi nessa época que comecei sair sozinha. Sair, porque sozinha já era. Se agora, muitas vezes ainda é difícil, imagina há quase vinte anos. Ali eu tinha uns dezenove ou vinte anos. Morava com a minha bebê. Em um quintal com mais quatro famílias. Duas quadras da casa da família do ex. Num bairro onde eu não conhecia quase ninguém. E onde ao pisar na rua, encontrava com meu amado, que me rejeitava, com seus amores, cada dia um novo, cada vez, uma garupa da moto diferente, cada dia na casa da sogra, que cuidava da minha criança, uma moça diferente no sofá, com minha criança no colo… Isso nos dias úteis, quando eu trabalhava. Nos finais de semana que eram da família paterna com a bebê, eu enlouquecia mais que o habitual. Uma dor absurda, avassaladora. Morria! Não me encaixava em lugar algum. As amizades da escola estavam em outra vibe. As colegas de trabalho em outras fases. Com jovens eu era velha. Com os adultos eu era uma criança. Família zero. Não tinha internet acessível como hoje. Não dava pra procurar grupos de apoio online de desconhecidos que vivem coisas parecidas e podem se ajudar. Eu comecei sair sozinha. Era a opção que tinha. Uma vez por mês, no sábado, trabalhava até meio dia, comia um salgado baratinho na rua, ia pro parque de diversões passar o restante do dia nas filas dos brinquedos. Era um ótimo lugar para ficar invisível, chorar em paz, gritar a vontade, exorcizar meus demônios. No fim do dia, chegar em casa tão exausta a ponto de não dar espaço pra insônia e desmaiar na cama por muitas horas e poder descansar silenciando os pensamentos.

É só uma foto.
É só uma vida. Eu que sei o que passei. Eu que estava lá. Eu por mim. Eu comigo. E que bom que sobrevivi.

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