texto de 08-08-24

No Parque do Carmo, todo ano, nessa época, acontece a Festa das Cerejeiras. A florada dura apenas alguns dias e o bosque fica lindíssimo. Costumo ir antes da festa para aproveitar melhor no contrafluxo. Dessa vez só consegui ir depois, quase perdi, vi apenas o finzinho das florzinhas, de tal modo, belas como de costume.

Lembrei da minha ida no ano anterior. Quando estava chegando, passou um rapaz por mim, reparei no skate que ele carregava pois vinha pesquisando skate para os meus filhos. Atravessamos a rua juntos, entramos no parque, seguimos pelo mesmo caminho um tempo, depois entrei no bosque e ele seguiu por outro caminho. Passeei bastante, fiz muitas fotos, depois segui para perto do lago onde gosto de sentar sob as árvores para ler. Um universo paralelo. Me desconecto do mundo e me conecto comigo. Foi quando ouvi alguém me chamando. Se aproximou. Era o mesmo rapaz. Se apresentou e perguntou se a gente poderia conversar e se conhecer pois estava me observando há um tempo, tão livre, tão interessante, tão encantadora, uma mulher incrivelmente cheia de si. Eu e minha inabilidade de socializar, fiquei imóvel alguns instantes, achei estranho, achei que não era comigo, achei que não era real. Olhei em volta achando que era uma brincadeira. Moço, você está realmente olhando pra mim? Me enxergando? É sério? Cadê seus óculos? Então agradeci suas palavras, me desculpei por não atender suas expectativas e disse que preferia continuar meu compromisso do dia com minha solitude. Bom passeio, aproveite o parque, seja feliz. Nos despedimos e só. Segui com meu plano. E depois duas coisas me afligiram: ser esquartejada e enterrada pelo parque (cresci com o maníaco do parque no cidade alerta!) ou Deus olhar para mim e dizer: desisto dessa ai. Entreguei de bandeja e ela não entendeu o recado.

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