10/03/25

Eram férias escolares das crianças e estávamos passando uns dias no interior com a minha família materna. Na mesa, todos conversávamos e ríamos de amenidades. Meu telefone começou pipocar notificações da minha família paterna sobre a partida do meu vô. Respirei profundamente, me levantei quietinha e sai para o quarto afim de digerir e processar a informação. Desabei em silêncio. Alguns instantes depois, minha filha se juntou a mim, nos consolamos e resolvi manter a discrição, compartilhando posteriormente, individualmente às pessoas ali que o conheciam e tinham algum apreço. Voltei para cozinha, me dediquei à louça na pia, continuei a margem da conversa. Foi quando o telefone da minha mãe tocou, era nosso vizinho para dar-lhe a noticia do meu vô. Ali na mesa, diante de todos, ela responde com um sonoro: ufa, graças a Deus, até que enfim, estou aliviada. Sem cerimonia, sem delicadeza, sem sutileza, sem empatia alguma, especialmente comigo. Ela deixou todos na mesa cientes do ocorrido, com naturalidade e frieza. Eu senti uma imensa vontade de vomitar, corri para o banheiro, depois peguei meus filhos e sai para caminhar pela cidade, sem direção, sem explicar muito, só para me sentir amparada e processar minhas emoções. Eu e ela nunca mais falamos disso, nem do meu vô. 

Há uns meses, a tv da sala parou de funcionar, o conserto não valia a pena, comprar uma nova estava fora de cogitação. Só deixei para depois. Há umas semanas, a tv do meu quarto também parou de funcionar. Fiquei ainda mais chateada. Não tinha como comprar uma, muito menos duas. Quando contei para minha mãe, ela disse: ainda bem que foi a sua e não a do meu quarto. 

Sempre tive boa saúde, de modo geral, tirando umas ‘ites’ e saúde mental, normalmente, tudo em ordem.  Recentemente tive uma crise e precisei de atendimento de urgência. Em seguida agendei atendimento de rotina para investigar melhor. Fiz alguns exames, que ainda não avaliei junto a medica que pediu, mas, um dos médicos que fez um dos exames já me deu diagnóstico. Não é nada absurdo só que é sério e vou precisar cuidar. Fiquei totalmente abalada. Perdi o chão e o rumo. Sofri calada, sozinha, desamparada. Um dia cai na besteira de falar com a minha mãe. Qual a reação? Sim: “Hahahaha, bem feito, pelo menos não sou só eu que tenho isso, você está ferrada também”. Como sempre, fico atônita e nem consigo falar mais nada. Me desencadeou mais uma crise de encolhimento, de trancafiamento no casulo, de desistências…

Pois é. Nós não falamos a mesma língua e eu nunca aprendo. 

Uma das coisas que preciso fazer nesse tratamento, que na verdade sempre deveria fazer, todo mundo na verdade, é lutar contra o sedentarismo. Isso está totalmente nas minhas mãos, não depende de fatores externos, de renda ou algo específico. Claro que existem coisas que cooperam, mas, não determinantes. 

Há exatamente um mês, comecei fazer a coisa mais difícil da minha vida todinha: cuidar de mim. Ter consciência é avassalador. Entender minhas limitações financeiras, sociais e também físicas. Estou fazendo treinos de calistenia, e mesmo com atenção ao baixo impacto, tenho encontrado dificuldades imensas. É tanta vontade de desistir o tempo todo! São tantas doreszinhas em todos os músculos… Todos os dias são terríveis e não, não tem sensação boa no final por ter insistido, ter conseguido, ter me superado. Não existe acostumar com o tempo e até sentir falta. Isso deve ser lenda urbana. Me determinei um treino por dia, sete por semana. Nas três primeiras, cumpri os sete, mesmo que faltando um dia, compensando com dois no dia seguinte. Só que na última semana, eu perdi todas as batalhas, perdi os sete dias. As batalhas da mente são as mais insanas! Me acolhi. Fiz a conta, foram 75% de aproveitamento. Copo meio cheio. Hoje, e só por hoje, deu certo. E tomara que amanhã seja um bom dia. 

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