Não consigo lembrar onde ouvi, ou li, mas a frase me fez explodir a cabeça e desde então fica ressoando todo dia, o tempo todo.
“Meus pais sempre me falam que eu não fui planejado, que eu não deveria ter nascido. E deve ser esse o motivo por eu nunca ter me sentido em casa nesse mundo. Sou aquela visita indesejada. Sou o intruso. Eu não deveria viver aqui nesse planeta.”
E pra mim fez tanto sentido pois é exatamente o que sinto. Como sempre me senti. O que sempre ouvi. Que ouço até hoje. Sem sutileza, sem compaixão. Dói. Rasga. Sangra. É aquela ferida que nunca cicatriza. E quando parece que há cicatriz, a pele abre novamente, revira toda a carne e fica inflamado, infeccionado, putrificado.
Se o assunto surgir todo dia, todo dia minha mãe confirma. Meu irmão nunca imaginou que essa “brincadeira” pudesse doer por que nele nunca doeu. E ele adora relembrar, reafirmar, desdenhar. Na frente do meu pai, jamais, mas ele também tinha muitos fantasmas e um grande abismo entre nós.
Isso me fere principalmente depois de me tornar mãe. Nunca faria isso com um irmão, menos ainda com um filho. Sou totalmente a favor do aborto apesar de imaginar que nunca faria. Nunca me passou pela cabeça. Fui mãe solo, adolescente. É de uma insanidade sem limite. Absurdamente insano. Intensamente insano. Nem por um segundo achei que minha filha foi um erro. Nunca! Nunca sequer fiz referencia. Me dói imaginar que possa alguma vez ter passado isso pela cabeça dela ou dos outros dois filhos. Me tranquiliza saber o que sinto, o que sempre senti. Reafirmar a valia deles e o amor, fundamental!
Soma-se o não pertencimento ao seio familiar com os relacionamentos fracassados, bingo! Minha inadequação e inabilidade social… Nunca me senti parte desse mundo!